Cooperação entre o MJSP e as Polícias Civis de GO e de SP bloqueia quase R$ 3,5 milhões em bitcoins na Operação Cripto Car
sexta-feira, 12 de dezembro de 2025, 15h22

Nesta quarta-feira (10), o Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), por meio da Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp), coordenou a deflagração da Operação Cripto Car, em parceria com a Polícia Civil de Goiás (PCGO) e a Polícia Civil de São Paulo (PCSP). A ofensiva teve como objetivo desmantelar uma associação criminosa especializada em estelionato eletrônico e lavagem de capitais por meio de criptoativos, revelando um esquema sofisticado com atuação interestadual.
A ação conjunta resultou no cumprimento de 26 medidas cautelares, sendo dez mandados de prisão temporária e 16 mandados de busca e apreensão, em quatro municípios de São Paulo: Guarujá, Mauá, Santo André e a capital. Também foram apreendidos R$ 3.399.247,63 (três milhões, trezentos e noventa e nove mil, duzentos e quarenta e sete reais e sessenta e três centavos), valor equivalente a aproximadamente 5,854 bitcoins, rastreados durante as investigações. O montante bloqueado tem por finalidade garantir o ressarcimento das vítimas e a descapitalização do grupo criminoso.
A iniciativa foi conduzida pelo Grupo de Repressão a Estelionato e outras Fraudes (GREF), da Delegacia Estadual de Investigações Criminais (Deic/PCGO), com apoio técnico da Coordenação-Geral de Combate a Crimes Cibernéticos (CGCiber/CiberLAB), da Diretoria de Operações Integradas e de Inteligência (Diopi/Senasp/MJSP).
“A Operação Cripto Car é um exemplo da atuação estratégica e coordenada entre os entes federativos no combate ao crime organizado digital. O uso de inteligência e de tecnologia permitiu rastrear fluxos financeiros ilícitos, promovendo uma resposta efetiva às fraudes eletrônicas e à lavagem por meio de ativos virtuais”, afirma Rodney da Silva, diretor de Operações Integradas e de Inteligência da Senasp/MJSP.
Fraude com veículo de luxo deu início à investigação
As investigações começaram a partir de uma fraude envolvendo a venda de um veículo de luxo — uma Mercedes CLA45 AMG — anunciada em uma plataforma digital. A transação causou prejuízo de R$ 530 mil à vítima. A partir desse caso, foi identificado um grupo criminoso com vítimas em, pelo menos, oito estados brasileiros, incluindo Bahia, Goiás, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo.
O modus operandi envolvia engenharia social complexa, uso de identidades falsas e documentação adulterada para simular negociações legítimas. Os criminosos se passavam por representantes de concessionárias e multinacionais, utilizando telefones com DDDs compatíveis com os estados-alvo para dar credibilidade à fraude.
As vítimas eram orientadas a realizar transferências bancárias para empresas de intermediação financeira vinculadas a corretoras de criptoativos. Em seguida, os valores eram convertidos imediatamente em bitcoin e pulverizados em diversas carteiras digitais.
Lavagem estruturada e reconversão em moeda nacional
Com apoio do Laboratório de Tecnologia contra Lavagem de Dinheiro (LAB-LD/PCGO), a investigação revelou uma estrutura especializada na ocultação de valores. O grupo criava contas fraudulentas em exchanges de criptoativos — plataformas digitais que funcionam como corretoras de criptomoedas — utilizando documentos digitalmente manipulados das próprias vítimas para burlar os sistemas de verificação de identidade (KYC).
Os valores transferidos eram fragmentados e movimentados em tempo real para carteiras privadas e, posteriormente, convertidos em moeda corrente por meio de empresas de balcão (OTC) e doleiros especializados. A movimentação identificada em uma das empresas investigadas somou R$ 56,9 milhões em apenas seis meses, demonstrando a alta capacidade operacional do grupo.
A organização contava com três núcleos bem definidos:
* Financeiro/Operacional: responsável pelo controle de carteiras e pela coordenação das fraudes;
* Lavagem: formado por doleiros e empresas responsáveis por receber os valores lavados;
* Fornecedores de Identidade: indivíduos que cediam imagens para a abertura fraudulenta de contas.
Responsabilização penal e continuidade das investigações
Os dez alvos da operação tiveram suas prisões temporárias decretadas e deverão ser indiciados pelos crimes de estelionato eletrônico (art. 171, §2º-A, CP), associação criminosa (art. 288, CP) e lavagem de capitais (Lei nº 9.613/1998). As penas somadas podem ultrapassar 21 anos de reclusão, além de multa.
A Polícia Civil de Goiás continua analisando o material apreendido e compartilha provas com as polícias civis de outros estados. O MJSP orienta que possíveis vítimas ainda não identificadas procurem a delegacia mais próxima e registrem ocorrência.
A operação foi batizada de “Cripto Car” em referência ao uso da venda de automóveis de luxo como isca para o golpe e à utilização de criptomoedas para rápida pulverização dos valores ilícitos, dificultando o rastreamento bancário e ampliando o alcance da atividade criminosa.
Fonte : Gov