UNICEF e Ministério da Igualdade Racial realizaram oficinas de cocriação para o desenvolvimento de cadernos antirracistas para a Primeira Infância
quinta-feira, 11 de setembro de 2025, 14h55
O UNICEF e o Ministério da Igualdade Racial (MIR) realizaram, nos dias 2 e 4 de setembro, oficinas de cocriação para o enfrentamento ao racismo na primeira infância. Os eventos aconteceram no Quilombo Caipora localizado no território de Pitanga dos Palmares na cidade de Simões Filho, dia 2, e no terreiro Ilê Axé Opô Afonjá em Salvador, dia 4.
As oficinas fazem parte da etapa técnica para a produção de novos cadernos setoriais da estratégia PIA - Primeira Infância Antirracista, com foco específico nas infâncias quilombolas e infâncias dos povos de terreiro. Atualmente, o PIA conta com quatro cadernos setoriais.
As atividades aconteceram em dois estados, Pernambuco e Bahia, e tiveram a natureza técnica e participativa, com metodologias de escuta qualificada, reconhecimento territorial e construção coletiva com sujeitos diretamente envolvidos no cuidado e proteção da primeira infância.
A Especialista em Desenvolvimento Infantil na Primeira Infância do UNICEF e idealizadora do PIA, Maíra Souza, explica que a escuta ativa e a cocriação sempre foram as bases da concepção da estratégia. “A iniciativa de criar materiais sobre quilombolas e povos de terreiro surgiu a partir de uma parceria do UNICEF com o governo federal, sob a liderança do Ministério da Igualdade Racial. Após o sucesso de oficinas online dos cadernos anteriores, optamos por um formato presencial para melhor atender às especificidades desses povos. Realizamos oficinas em Pernambuco (Olinda e Camaragibe), e agora na Bahia (Simões Filho e Salvador)”, disse Maíra.
A Coordenadora de Políticas para Povos e Comunidades Tradicionais de Matriz Africana e de Terreiro do MIR, Sarah Nascimento, destacou a necessidade dos novos cadernos para uma abordagem que considere as crianças como sujeitos de direitos, combatendo a visão adultocêntrica que muitas vezes subsumi [MS1] [RC2] as violências sofridas por elas.
As oficinas presenciais buscaram uma maior representatividade e diversidade de vozes para que o projeto continue expandindo seu alcance e impacto.
Para Sarah, as crianças de quilombo e terreiros sofrem um apagamento em suas identidades. “Há um conjunto de violências integradas que empurram essas crianças para a margem, causando um efeito desagregador que desconstrói sua identidade, atacando não só a autoestima, mas relegando-as a uma vida de violência e iniquidades" explica a coordenadora.
O trabalho está alinhado com marcos legais e políticas nacionais que asseguram os direitos das crianças e a valorização das culturas negras, como: o novo Plano Nacional de Educação (2024-2034), que destaca ações afirmativas e antirracistas; as diretrizes específicas para a educação escolar quilombola e de relações étnico-raciais; dentre outros.
Francisco Sacramento, de 10 anos, participou da oficina no seu Quilombo em Pitanga e foi convidado a dizer o que as crianças precisam: “O que as crianças precisam? Que lhes cuidem bem” foi a resposta do menino. Já, o seu primo Wellington, de 5 anos, disse que as crianças precisam dormir e brincar de manhã.
Os dois novos cadernos sobre as Infâncias Quilombolas e as Infâncias de Povos de Terreiro serão publicados ainda em 2025.
As atividades na Bahia foram apoiadas pelo Instituto Mãe Bernadete e o Ilê Axé Opô Afonjá.
Sobre PIA
A estratégia PIA – Primeira Infância Antirracista, do UNICEF, tem como objetivo chamar a atenção de profissionais brasileiros da educação, assistência social e saúde sobre os impactos do racismo no desenvolvimento infantil, além de garantir, de fato, um atendimento qualificado e humanizado, que leve em consideração as especificidades étnico-raciais das crianças e suas famílias, apoiando mães, pais ou cuidadores a exercer uma parentalidade positiva e estruturante das bases do desenvolvimento infantil.
FONTE: UNICEF