Ministério Publico do Estado de Mato Grosso

O SER HUMANO COMO ENGRENAGEM DO SISTEMA PLANETÁRIO

por Andrea Almeida Barros

quinta-feira, 06 de maio de 2021, 13h32

Entramos no segundo ano de pandemia mundial pelo novo coronavírus, que teve sua origem em um desequilíbrio natural, e o que mudou na relação entre o homem e o meio ambiente? Ouso dizer que nada mudou. Ou mudou, mas para pior, mesmo com tantos sinais emitidos pela natureza acerca da saturação do uso indiscriminado do planeta pela humanidade.

Em uma busca nos principais saites de notícias, vemos que houve aumento na produção de commodities, nosso principal (ou pelo menos um dos) item de exportação, o que foi muito comemorado. Mas a que custo? A relação não é simples, mas precisa ser traduzida para que haja a compreensão do que isso significa para o meio ambiente e, por consequência, para a humanidade como um todo.

Toda vez que aumenta a área produtiva, ocorre uma diminuição das áreas de floresta em razão de manobras de desmatamento (na maior parte das vezes ilegais e com danos irreparáveis para diversos segmentos). Uma das funções da manutenção de um ambiente ecologicamente equilibrado (e aqui me refiro aos ecossistemas em geral) é manter a troca gasosa e a umidade constantes na atmosfera, através da fotossíntese (a vegetação absorve o gás carbônico e o transforma em oxigênio, que precisamos para sobreviver, equilibrando, também, o ciclo da água e, por consequência, das chuvas). Então, quanto mais área preservada, maior a capacidade de troca gasosa, maior o equilíbrio da umidade na atmosfera e da qualidade do solo (isso sem comentar sobre os outros benefícios para o meio ambiente, para o ser humano e não humano, em geral).

Quando uma floresta é desmatada, essa capacidade diminui (de novo: estou analisando apenas um item). Por outro lado, com o aumento da produção agropecuária, desmatamento, consumo exacerbado, etc., maiores são os níveis de emissão de gases de efeito estufa (GEE) na atmosfera. Como diminui a capacidade das florestas, esses gases se acumulam, gerando o desequilíbrio desse e dos outros sistemas, o que resulta no aquecimento global e, por consequência, na mudança climática: geleiras derretem, alterando o nível e a temperatura dos oceanos, que, também, influenciam diretamente no clima mundial. O que vemos? Mais eventos extremos, como tornados, tempestades, secas, ondas de calor e frio, alterações nas estações do ano, entre outros. Sim, esta é uma explicação bem simplista, eu sei, pois o tema enseja muitas outras análises que não cabem nesse post.

É por isso que o Acordo de Paris existe desde 2015, embora o tema já venha sendo tratado desde muito antes. Foi para debatê-lo que os países se reuniram na Cúpula do Clima na semana passada (22 e 23 de abril de 2021), para apresentar que medidas (drásticas e de urgência) serão tomadas individualmente para diminuir a quantidade de emissão de GEE na atmosfera a fim de evitar ainda mais o aquecimento global e suas nefastas consequências. Este evento está sendo considerado pela comunidade internacional como a prévia para a COP 26 (Cúpula das Partes sobre as Mudanças Climáticas, organizado pelas Nações Unidas), que será realizada em novembro, na Escócia.

Já passou da hora de os países – todos! – atuarem em conjunto para proteger a humanidade, reconhecendo que as mudanças climáticas existem e que a alteração da temperatura média do planeta precisa ser contida. Todos os países precisam adotar uma política pública séria e eficaz sobre a mudança climática. A seguir no caminho que por ora trilhamos e adotando posturas negacionistas, restará apenas o planeta, que é resiliente, mas sem os seres humanos, os únicos dotados de consciência e conhecimento, por ironia.

Agora, pergunto: o que essa visão holística, pautada na Teoria de Gaia, de James Lovelock, tem a ver com o nosso dia a dia? Tudo!

Somos afortunados por ocupar um planeta que, ainda que com muitos problemas ambientais, fornece água, ar e alimento (energia) para continuarmos sobrevivendo. Se ao menos um desses itens faltar, morreremos. E eu não vou entrar aqui na qualidade da água, do ar e dos alimentos... Isso serve de tema para outro embate.

Por ora, é preciso entender que temos duas casas: nosso corpo e nosso planeta, cada um com seus sistemas próprios, que precisam estar em perfeito equilíbrio para seguirmos adiante, com saúde. Além disso, precisamos nos dar conta de que fazemos parte do sistema planetário, formado por tantos outros sistemas. Somos apenas uma pequena engrenagem do todo. Não vivemos dissociados do meio ambiente ou outro de seus sistemas. Quando mudamos essa percepção, entendemos que precisamos atuar para cuidar e proteger nossa casa comum assim como cuidamos do nosso corpo físico e mental.

E precisamos pensar que nossos descendentes habitarão o mesmo planeta que hoje habitamos e que se não cuidarmos dele, as condições para as futuras gerações sobreviverem serão inóspitas, talvez inexistentes. Não há um planeta B com condições hábeis à nossa sobrevivência. Só existe este que nos acolhe e que acolherá nossos netos, bisnetos, tataranetos. É preciso parar de olhar o agora e olhar para o futuro. A isso podemos chamar de viver sustentavelmente, ou seja, utilizarmos o planeta apenas o necessário para a nossa sobrevivência e bem estar, preservando-o para as futuras gerações, que já possuem o direito de receber o meio ambiente ecologicamente equilibrado, conforme dispõe a nossa Constituição Federal. É preciso mudar a relação, totalmente extrativista e inconsequente, que temos com o meio ambiente e, portanto, com o Planeta Terra.

O que fazer? Atitudes sustentáveis devem ser adotadas imediatamente. Evitar o excesso de consumo; diminuir a geração de resíduos sólidos; fazer a compostagem doméstica de resíduos orgânicos; preservar a vegetação nativa já existente, de forma a melhorar sua função ecossistêmica; recuperar (e muito!) as áreas degradadas sob orientação técnica séria; optar por plantas nativas às exóticas; adotar os 3Rs: reduzir, reutilizar, reciclar; entender que sem o meio ambiente não sobreviveremos; entre outras medidas simples, mas que em conjunto farão a diferença. É preciso mudar nossa forma de agir imediatamente, pois o planeta não é fonte inesgotável de recursos. A visão extrativista já está demasiado ultrapassada e agora vivemos numa corrida contra o tempo para recuperar o planeta dos danos que a ele causamos ao longo dos últimos séculos.


Fonte: logica.eco.br


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