Ministério Publico do Estado de Mato Grosso

Migalhas: Casas de apostas online e os bloqueios indevidos

por Charles Dias

segunda-feira, 15 de setembro de 2025, 14h53

 

O crescimento do setor e o aumento dos conflitos

 

Nos últimos anos, o mercado de apostas online e cassinos virtuais consolidou-se como um dos segmentos de maior expansão no Brasil. Plataformas como Blaze, Bet365, Betway, Bet.io, entre outras, movimentam bilhões de reais e atraem milhões de jogadores, impulsionadas por publicidade massiva, patrocínios esportivos e utilização de influenciadores digitais.

 

Entretanto, junto ao crescimento desse setor, emergiu um problema recorrente: o bloqueio arbitrário de contas de usuários e a retenção indevida de depósitos e prêmios. Essa prática caracteriza violação à legislação consumerista e pode gerar responsabilização judicial das empresas envolvidas.

 

Bloqueios unilaterais: Uma prática abusiva

 

Diversos consumidores relatam situações em que realizam depósitos regulares em conformidade com as regras da plataforma, obtêm ganhos legítimos em apostas esportivas ou cassinos digitais e, ao solicitar o saque, enfrentam bloqueios unilaterais, exigências excessivas de documentos ou justificativas genéricas como "violação de políticas internas". Essas condutas são ilegítimas, configuram retenção indevida de patrimônio alheio e afrontam a legislação brasileira, em especial o CDC.

 

A proteção jurídica do jogador

 

O fato de muitas dessas plataformas possuírem sede em paraísos fiscais não exclui a aplicação da lei nacional. O consumidor brasileiro é protegido pelo CDC (lei 8.078/1990), especialmente pelos seguintes dispositivos:

 

📌 Art. 6º, incisos IV e VI: garante proteção contra práticas abusivas e assegura reparação integral de danos patrimoniais e morais.
📌 Art. 42: assegura ao consumidor a repetição do indébito, com correção e juros, em caso de cobrança ou retenção indevida.
📌 Art. 101, inciso I: permite que a ação judicial seja ajuizada no domicílio do consumidor, ainda que a empresa esteja sediada no exterior.


Além disso, a jurisprudência brasileira aplica a teoria da aparência e a responsabilidade objetiva prevista no art. 14 do CDC, responsabilizando empresas estrangeiras que atuam no mercado nacional via internet.

 

Danos materiais e morais

 

O bloqueio injustificado não atinge apenas o aspecto financeiro, mas também causa prejuízos emocionais, frustração e desgaste psicológico. A jurisprudência pátria já consolidou o entendimento de que a privação injustificada de acesso a valores próprios ultrapassa o mero aborrecimento, sendo passível de indenização por danos morais.

 

Precedentes relevantes

 

📌 O TJ/SP reconheceu a obrigação de casa de apostas restituir valores bloqueados e indenizar jogador por bloqueio arbitrário.

📌 O TJ/DF determinou devolução imediata dos créditos retidos e fixou indenização por danos morais, diante da ausência de prova de fraude contratual.

📌 A Justiça britânica condenou operadora a restituir £ 1,7 milhão, entendendo que a empresa falhou no dever de monitoramento responsável e permitiu perdas indevidas.

 

Orientação ao consumidor

 

Se sua conta foi bloqueada ou seus ganhos foram retidos, não aceite justificativas genéricas. O procedimento usual dessas empresas é protelatório, buscando ganhar tempo e desestimular o consumidor. A orientação é procurar advogado especializado em direito digital e do consumidor, capaz de:

 

📌 Requerer o desbloqueio imediato da conta.
📌 Exigir a restituição integral dos valores, com juros e correção monetária.
📌 Pleitear indenização por danos morais.
📌 Solicitar bloqueio judicial de valores em contas da empresa ou de intermediários financeiros no Brasil.
 

Conclusão

 

Bloqueios unilaterais em cassinos online e casas de apostas não podem ser legitimados sob o argumento de "política interna". O consumidor brasileiro dispõe de legislação robusta e de jurisprudência favorável, que asseguram o direito à restituição integral e à reparação pelos danos sofridos. Seus ganhos e depósitos são parte do seu patrimônio. Nenhuma empresa pode retê-los sem base legal.

 

Fonte: Migalhas


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