Ministério Publico do Estado de Mato Grosso

Artistas de minorias contribuem para promoção dos direitos humanos

quarta-feira, 10 de dezembro de 2025, 17h16

O Concurso de Artistas de Minorias organizado pela ONU Direitos Humanos em parceria com Freemuse, Minority Rights Group e a Prefeitura de Genebra celebra artistas de minorias, cujo trabalho testemunha lutas por dignidade, justiça e visibilidade.
 

O tema de 2025 — Pertencimento, Lugar e Perda — ressoou profundamente com artistas de todo o mundo cujas identidades foram moldadas pelo deslocamento, devastação ambiental, racismo estrutural e trauma geracional, gerando mais de 240 inscrições este ano.

 

O Concurso homenageou dois artistas brasileiros: Mariri Tavares e Emanoel Saravá. 

 

Emanoel Saravá e Mariri Tavares, artistas brasileiros, são homenageados em Concurso de Artistas de Minorias.

Legenda: Emanoel Saravá e Mariri Tavares, artistas brasileiros, são homenageados em Concurso de Artistas de Minorias. Foto: © Emanoel Saravá/Mariri Tavares.

 

O Concurso de Artistas de Minorias organizado pela ONU Direitos Humanos em parceria com Freemuse, Minority Rights Group e a Prefeitura de Genebra celebra artistas de minorias, cujo trabalho testemunha lutas por dignidade, justiça e visibilidade, formando uma pedra angular dos esforços da ONU em Direitos Humanos para valorizar os artistas como defensores dos direitos humanos.

O tema de 2025 — Pertencimento, Lugar e Perda — ressoou profundamente com artistas de todo o mundo cujas identidades foram moldadas pelo deslocamento, devastação ambiental, racismo estrutural e trauma geracional, gerando mais de 240 inscrições este ano.

 

A ONU Direitos Humanos conversou com os dois artistas brasileiros, Mariri Tavares e Emanoel Saravá, homenageados na edição de 2025. Confira abaixo.

 

 

Quem é você? O que te levou a começar a produzir arte?

 

Emanoel Saravá:  Me chamo Emanoel Saravá, artista visual brasileiro. Minha prática nasce do encontro entre corpo, território, memória e fabulação, especialmente das marcas deixadas pelo racismo ambiental que atravessou minha infância, quando a água invadia minha casa em Paripe. Eu comecei a assumir e produzir arte porque precisei dar vazão ao que me atravessava em linguagem, como ferramenta de sobrevivência, escuta e reexistência.

 

Mariri Tavares: Me chamo Mariri, sou artivista e encontrei nas artes plásticas uma forma de expressar minhas visões e comunicá-las através da beleza a riqueza do nosso território, da nossa tauna e da nossa flora, elas são as protagonistas do meu trabalho.  A arte chegou até mim desde criança através da música, das expressões corporais como a dança e o teatro e a Escultura chegou no meu caminho a 7 anos, trazendo todo o potencial de acesso à criatividade através das inúmeras possibilidades que ela traz. A arte chegou para ficar e me fez entender que sem ela meu peito não pulsa da mesma forma, meu existir e resistir aqui é comunicado através dela. 

 


 

Qual a inspiração do seu trabalho e o que você busca alcançar a partir dele?

 

Mariri Tavares: Minha maior inspiração é a Terra, é a riqueza do nosso Território, as mulheres, os animais, a diversidade existente na nossa casa, que é o Brasil. No meu trabalho busco trazer o olhar para isso, tocar as pessoas através da arte e questionar sobre a questão ambiental, sobre os valores que damos para o cuidado com o futuro e as reparações necessárias do passado. Minha arte é uma mistura de cultura, arte e meio ambiente. Abordo todos esses pontos como prioridades, emergência e beleza. 

 

Emanoel Saravá: Minha inspiração vem das memórias das minhas águas internas e das águas que atravessam meu território. Busco criar trabalhos que não se limitem à denúncia, mas que tensionem e transmutem memória e subjetividade para vidas e territórios silenciados e esquecidos. Quero que minha obra funcione como ritual de consciência coletiva e como contra-narrativa ao olhar hegemônico sobre nós.


 

Obra "Cobra-coral" de Mariri Tavares.

Legenda: Obra "Cobra-coral" de Mariri Tavares. Foto: © Mariri Tavares.

 

 

Como os direitos humanos inspiram sua arte e como ela contribui para o avanço do respeito a esses direitos?

 

Emanoel Saravá: Os direitos humanos são uma faltante diária em meu território, e minha arte nasce justamente da fratura entre o que deveria ser garantido e o que nos é negado. Quando trabalho com água e memória, estou denunciando as estruturas que permitem que comunidades inteiras vivam sem segurança territorial, sem saneamento, sem justiça ambiental e econômica e até sem o direito à individualidade, fora de um molde de narrativa condicionada e limitante sobre nós mesmos. Minha obra contribui avançando o debate de forma sensível, criando experiências de fabulação radical, onde o público não apenas “entende” uma causa, mas sente o que ela produz nos corpos e nos territórios.

 

Mariri Tavares: Ela é fundada nos Direitos Humanos de ser e existir aqui, com qualidade de vida e com o modo que estamos vivendo o futuro é questionável, meu trabalho fala sobre sustentabilidade, sobre o reaproveitamento dos recursos como medida de solução para um problema social gigante, que é o que chamamos de “lixo” seja visto e pensado em soluções.

 

 

Para você, como é ser um artista de minorias? E qual a importância de reconhecer o trabalho de artistas como você?

 

Mariri Tavares: Eu sou una mulher periférica, vinda do Sul do Brasil e para o meu povo é muito mais difícil ascender na sociedade e conseguir comunicar nossos potenciais e gigantezas. A comunidade que venho tem muito potencial e carrego a história da minha Vila Resistência comigo, ela que me formou e me constrói como mulher e como artista, a realidade no cotidiano nos faz acreditar que é possível sim crescer em meio ao ambiente que muitos não acreditam ser possível. As crianças que compartilho o dia-a-dia inspiram a ser cada dia melhor e seguir lutando pelo que acreditamos. 

 

Emanoel Saravá: Ser artista em um grupo de não dominância dentro de um sistema excludente, sem estruturas básicas de apoio, acesso à cultura ou educação de qualidade, é criar com urgência e justamente por isso criar com mais densidade, fazendo da própria prática uma forma de insurgência sensível. Reconhecer artistas como eu é reconhecer que precisamos de uma arte integrada a ações de debate humanitário, capaz de circular em espaços de decisão e discussão. É garantir que nossas vozes alcancem arenas globais e nos coloquem também no lugar de cidadãos do mundo. O sistema ainda mantém hierarquias coloniais de narrativa, e por isso premiar nossos trabalhos não é somente “inclusão”: é abrir brechas reais para que discursos plurais infiltrem instituições e imaginários, criando diálogos e trocas que vão além das monoculturas de visão e ampliem o horizonte comum.

 

 

Quais são os principais obstáculos existentes para artistas de minorias?

 

Emanoel Saravá: A falta de infraestrutura básica nos territórios de onde viemos. A desigualdade de acesso à formação, circulação e financiamento. A hierarquia racial, estética e epistemológica que define quem pode ser lido como “artista” e quem continua sendo lido como “tema”. A romantização da nossa dor, que tenta transformar nossas narrativas em produto sem transformar a estrutura que nos violenta.



Mariri Tavares: Para mim os principais obstáculos são a falta de oportunidade de expressão, espaços para serem ocupados onde sejamos escutados e que botem fé nas nossas potências e nos nossos sonhos. 

 

Obra “Águas Marginais”, de Emanoel Saravá.

Legenda: Obra “Águas Marginais”, de Emanoel Saravá. Foto: © Emanoel Saravá.

 

 

Como você percebe a relação entre expressão pessoal e responsabilidade social em sua arte?

 

Mariri Tavares: Esses dois termos se mesclam. A expressão pessoal vem como a alma da necessidade de fazer e criar, e a responsabilidade social traz o sentido e o propósito. Ambos precisam um do outro e essa união que constrói a mensagem que chega até o povo é comunicando sobre a importância desse cuidado com o nosso destino, é muito importante que haja questionamento sobre isso. 



Emanoel Saravá: No meu trabalho, não existe separação. A expressão pessoal já é social, porque meu corpo é político, ancestralizado e atravessado por processos históricos coletivos. Minha obra assume a responsabilidade de tensionar a estrutura, mas sem sacrificar a poesia ou o campo do subjetivo, articulando símbolos que possam mover imaginários, ativar consciência crítica e produzir deslocamentos reais na forma como percebemos corpos, territórios e direitos.

 

 

Como os artistas podem trabalhar juntos para fortalecer os movimentos pelos direitos humanos?

 

Emanoel Saravá: Artistas podem fortalecer esses movimentos quando: Criam alianças coletivas reais e senso de pertencimento. Compartilham recursos e oportunidades, criando redes de sustentação e não de competição. Produzem narrativas que escapem do colonialismo visual e ampliem o repertório imagético.
 


Mariri Tavares: Bom, são inúmeras as formas, já trabalhamos inclusive. Quando juntamos as nossas potências, percebemos o quão mais forte nos tornamos, pois cada um traz sua expressão e isso gera uma diversidade de pontos que levantamos. A arte também é política e comunica sobre normas universais que protegem a dignidade de todos os seres humanos, falar sobre a questão climática é preservar a vida. 



Conheça mais o trabalho de Emanoel Saravá e Mariri Tavares.


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