Ministério Publico do Estado de Mato Grosso

Gestação Solidária: amiga gesta filho de casal homoafetivo

terça-feira, 11 de junho de 2024, 14h03

“A chegada de Aurora trouxe um amor e uma alegria indescritíveis para nossas vidas. Cada sorriso, cada olhar, cada pequeno gesto dela enche nossos corações de felicidade”, diz o engenheiro ambiental Rômulo Gomes de Souza, de 33 anos. Ele e o marido, o contador Paulo Henrique Gomes de Souza, de 36 anos, encontraram na melhor amiga a possibilidade de realizar o sonho de se tornarem pais.

 

O sonho se tornou realidade em abril deste ano, quando nasceu Aurora. Ela foi gestada pela atendente Tatiane dos Santos Silva de Almeida, de 42 anos, após o procedimento de fertilização in vitro.

 

O trio se conheceu na igreja há cerca de oito anos. Paulo foi, inclusive, padrinho de casamento de Tatiane.

 

“Sentimos que nossa família está completa e cada desafio enfrentado valeu a pena. Aurora nos ensinou o verdadeiro significado do amor incondicional e nos uniu ainda mais como casal”, recorda Rômulo.

 

Para Paulo Henrique, encontrar uma pessoa disposta a ser a barriga solidária foi a parte mais difícil do processo. “Nem todas as pessoas estão dispostas a fazer esse grande ato de amor.”

 

“Não encontramos em nossa família ninguém disposto a ajudar. Em uma conversa informal, o Paulo mencionou a situação para a Tatiane, que, para nossa surpresa, prontamente aceitou fazer o procedimento”, relembra Rômulo.

 

Rômulo, Paulo e Aurora. Foto: EVI Filmes

 

In vitro

 

O processo de fertilização in vitro incluiu dificuldades financeiras e outros desafios. Na primeira tentativa de inseminação com uma doadora anônima de óvulos, não se formou um embrião. Em seguida, Tatiane foi diagnosticada com trombose e precisou de cinco meses de recuperação.

 

Neste período, foi feita uma nova tentativa de fertilização, dessa vez, bem-sucedida. Os embriões foram congelados até a recuperação de Tatiane. A transferência foi feita em agosto de 2023.

 

A gravidez foi uma jornada de altos e baixos emocionais, relembra Tatiane, que decidiu morar com o casal até o nascimento da bebê. “Houve momentos de alegria intensa, mas também de preocupação e ansiedade.”

 

“Cada ultrassom, cada batida do coração da Aurora, trazia uma mistura de felicidade e apreensão. Fisicamente, a gravidez trouxe desafios típicos, como enjoos e cansaço, mas a sensação de estar contribuindo para algo tão significativo me deu forças para superar cada obstáculo. A cada movimento da Aurora dentro de mim, sentia uma conexão profunda e um amor crescente, que me motivava a seguir em frente”, diz a atendente.

 

O apoio dos entes queridos, segundo ela, foi essencial. “Alguns familiares e amigos ficaram surpresos, mas apoiaram desde o início. Todos entenderam a importância e a beleza do gesto, e hoje recebo muito apoio e reconhecimento pela decisão que tomei.”

 

Para Tatiane, o maior desafio foi a incerteza profissional. Ela lembra do medo de perder o emprego em razão dos atestados e da licença-maternidade.

 

“A incerteza sobre como meu empregador reagiria e a possibilidade de enfrentar dificuldades financeiras me preocupavam. No entanto, com o apoio de Paulo, Rômulo e minha rede de amigos e familiares, consegui seguir em frente com confiança”, conta.

 

CRM

 

Na clínica, o casal foi informado da necessidade de autorização do Conselho Regional de Medicina – CRM. No Brasil, a barriga solidária só pode ser feita por familiares do casal, até o quarto grau de parentesco, mas uma resolução editada em 2022 permite que outras pessoas cedam o útero, mediante autorização do CRM.

 

Segundo Rômulo, não houve obstáculo para obter a autorização do CRM. “Fomos muito bem atendidos por todos os profissionais e, em pouco mais de um mês, já tínhamos a resposta afirmativa, autorizando o procedimento.”

 

No círculo social, porém, algumas decepções. “Ouvimos comentários que nos deixaram tristes, como ‘ela não vai ter mãe’ ou ‘não é um processo divino da criação’.”

 

Mas, em geral, os familiares aceitaram bem nossa decisão de ter a linda Aurora. Todos a receberam com muito amor. Sentimos algumas pessoas um pouco distantes, o que acreditamos ser por preconceito, mas isso não nos abala. Queremos estar próximos daqueles que nos amam de verdade e nos apoiam”, frisa.

 


Paulo, Rômulo e Tatiane. Foto: EVI Filmes

 

Mês do Orgulho

 

Na visão de Paulo, a sociedade e as leis brasileiras têm evoluído, mas ainda há muito a ser feito para garantir os direitos da população LGBTQIA+. “Conquistamos alguns direitos importantes, mas o preconceito ainda é uma realidade que enfrentamos diariamente.”

 

“Precisamos de mais políticas públicas que garantam a igualdade de direitos e proteção para todas as famílias, independentemente de sua composição. É crucial que continuemos avançando e não retrocedamos em nossas conquistas”, ressalta.

 

O Mês do Orgulho LGBTQIA+, acrescenta o contador, é um período de celebração e reflexão sobre conquistas e lutas. “Neste momento tão significativo de nossas vidas, com a chegada da Aurora, sentimos ainda mais a importância de visibilizar nossas histórias e reivindicar nossos direitos.”

 

“É um tempo para reafirmar nosso orgulho e nossa identidade, além de inspirar outros casais LGBTQIA+ a acreditarem em seus sonhos e lutarem por eles”, reconhece.

 

Amizade solidária

 

Moradora de Valparaíso, em Goiás, Tatiane dos Santos conta que a amizade com o casal sempre foi marcada por momentos de partilha, compreensão e “um profundo respeito mútuo, que nos uniu ainda mais ao longo do tempo”.

 

Ao receber o pedido dos amigos, ela lembra que ficou emocionada e também surpresa, especialmente em razão da idade. “Fiquei profundamente tocada pela confiança que Paulo e Rômulo depositaram em mim para um papel tão importante em suas vidas.”

 

“O que me motivou a aceitar foi o desejo de ajudar amigos queridos a realizarem o sonho de serem pais, além do meu próprio desejo de fazer a diferença na vida deles. A ideia de poder contribuir para a felicidade de pessoas tão especiais me encheu de um sentimento de propósito e realização”, afirma.

 


Aurora. Foto: EVI Filmes

Convivência

 

Hoje, Tatiane mantém uma convivência saudável e participativa com o casal. A dinâmica, segundo ela, é harmoniosa e baseada em respeito, amor e carinho mútuo.

 

Rômulo reforça que a amiga é superparticipativa e trata Aurora com muito amor e carinho. “Ela é uma pessoa incrível, de um coração imenso.”

 

“Ver Aurora sorrir, ouvir seu choro e acompanhar cada pequeno avanço é uma experiência indescritível. Sinto uma alegria imensa ao vê-la crescer nesse primeiro mês de vida, que está sendo de muitas emoções e aprendizado com os papais. É como se cada momento com ela fosse uma celebração da vida e do amor que nos uniu”, diz Tatiane.

 

Para quem deseja ser “barriga solidária”, ela deixa uma mensagem de encorajamento e reflexão:

 

“Ajudar amigos dessa maneira é um ato de amor e generosidade que pode transformar vidas. É importante estar preparado emocionalmente e fisicamente, e contar com uma rede de apoio sólida. Se você sente no coração que pode fazer a diferença, siga em frente com coragem e amor. A jornada pode ser desafiadora, mas a recompensa de ver a felicidade nos olhos daqueles que você ajudou é incomparável. Cada sacrifício vale a pena quando se trata de trazer uma nova vida ao mundo e realizar o sonho de alguém.”

 

Sonhos

 

Para o futuro, Rômulo e Paulo querem estabilidade financeira e mais quatro filhos, seja por meio da adoção ou de FIV. “Temos dois embriões congelados que queremos utilizar. Nosso sonho é ter uma família grande e cheia de amor, onde cada criança seja acolhida com carinho e respeito.”

 

O casal aconselha quem sonha com a paternidade/maternidade: “Não desistam dos seus sonhos, mesmo diante dos desafios. A jornada pode ser difícil, mas a recompensa é imensurável. Busquem apoio em suas redes de amigos e familiares, e não hesitem em procurar ajuda profissional quando necessário. Acreditem no amor e na força da família que vocês estão construindo. Cada passo dado com amor e coragem vale a pena”.

 

“Apesar dos desafios e das dificuldades, a jornada de se tornar pais é uma das mais gratificantes que alguém pode experimentar. É importante ter paciência, resiliência e, acima de tudo, amor. Cada obstáculo superado fortalece a união e o compromisso com a família que estamos construindo. Não desistam dos seus sonhos e acreditem: com determinação e apoio, tudo é possível”, respondem, em conjunto.

 

Na página do Instagram @2paiseaurora, o casal compartilha momentos especiais, desafios e conquistas, além de dicas e informações sobre o processo de FIV e a vida em família.

 

Por Débora Anunciação

 

 

 

Fonte: Assessoria de Comunicação do IBDFAM

 


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