Ministério Publico do Estado de Mato Grosso

Materiais gratuitos apoiam escolas a integrar educação ambiental ao currículo

por Ana Luísa D'Maschio

quarta-feira, 26 de novembro de 2025, 17h22

Conheça recursos e materiais que ajudam educadores a colocar o tema em prática no dia a dia

 

educação ambiental deixou de ser apenas um projeto pontual para se tornar uma necessidade estrutural das escolas. Em um mundo marcado por ondas de calor, enchentes e estiagens prolongadas, a relação entre clima e educação se torna cada vez mais evidente. 

 

Formar novas gerações capazes de compreender e transformar o planeta exige que educadores e redes de ensino incorporem o tema de maneira permanente ao currículo e ao cotidiano.

 

Essa urgência ganha ainda mais força no contexto da COP30 (Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025), que segue em Belém (PA) até sexta-feira, 21 de novembro. Em carta aberta, a presidência da COP declarou que o planeta entrou definitivamente na chamada “era das consequências”. O presidente designado, André Corrêa do Lago, afirmou que a adaptação climática deixou de ser uma escolha e passou a ser condição para a sobrevivência humana.

 

O MEC (Ministério da Educação) também aproveitou o evento global para anunciar a PNEAE (Política Nacional de Educação Ambiental Escolar), que deverá ser lançada em breve. “Pensar na questão ambiental passa fundamentalmente pela questão da educação”, afirma o ministro Camilo Santana.

 



“Quando a gente fala em educação, na relação que ela tem com a questão ambiental, a gente fala de uma educação de qualidade, em que todos tenham acesso e permaneçam na escola. Mas nós queremos uma educação com equidade e com inclusão, e a questão climática não é mais uma questão do futuro, é uma questão do presente, fruto dos eventos extremos que o Brasil tem sofrido”, complementa. 

 

Eixos da PNEAE (Política Nacional de Educação Ambiental Escolar)
Coordenação federativa – Estrutura de governança tripartite entre MEC, Consed (Conselho Nacional de Secretários de Educação) e Undime (União dos Dirigentes Municipais de Educação), além de uma Rede Executiva de Governança composta por 53 agentes estaduais, municipais e distrital, e 346 agentes territoriais de educação ambiental escolar.

Protocolos, diretrizes, cadernos orientativos e planos de resiliência para redes e escolas. 

Formação – Currículo e práticas pedagógicas para escolas sustentáveis e resilientes, com foco em adaptação climática, soluções baseadas na natureza, saberes tradicionais e populares, pátios verdes e bioconstruções.

Compartilhamento de saberes e práticas – Criação do Selo Chico Mendes de Educação Ambiental Escolar (reconhecimento de escolas e redes sustentáveis); o Dia da Virada Climática para mobilização educacional em torno da justiça climática; editais públicos de incentivo às práticas educacionais sustentáveis de juventudes; e ações de comunicação voltada à difusão de saberes tradicionais.

 

Escolas afetadas

Apenas no Brasil, em 2024 cerca de 1,5 mil municípios interromperam aulas devido a eventos climáticos extremos. Mais de 10 mil escolas tiveram seu funcionamento comprometido e aproximadamente 2,5 milhões de estudantes foram afetados.



As altas temperaturas diminuem a concentração, dias sem aula prejudicam a continuidade pedagógica, enchentes inviabilizam o transporte escolar e desastres ambientais geram insegurança emocional dentro e fora das escolas, como mostramos na Série Escolas Resilientes. O especial foi selecionado pelo edital da Jeduca (Associação de Jornalistas de Educação) e premiado pelo Covering Climate Now Awards, que reconhece sua relevância no debate sobre educação e clima.

 

Apoio pedagógico

 

Se a crise climática afeta profundamente a educação, também é pela própria educação que surgem caminhos concretos para a mudança. Escolas e organizações de diferentes partes do país já demonstram que é possível construir práticas significativas, desde que exista apoio, formação docente e materiais pedagógicos adequados.



Uma das iniciativas que contribui com educadores dessa área é o Programa Reciclus Educa, que disponibiliza gratuitamente materiais de apoio, formações e recursos didáticos que facilitam a inserção dos temas ambientais no cotidiano escolar.



A organização é responsável por operacionalizar a logística reversa das lâmpadas fluorescentes que contêm mercúrio, com mais de 3 mil pontos de entrega em estabelecimentos comerciais em todo o Brasil.



“Na Reciclus, costumamos dizer que a educação ambiental é como uma semente: ela precisa ser plantada, regada e cuidada. E essa mesma concepção vale para a construção da consciência ambiental com crianças e jovens”, diz Camilla Horizonte, gerente-executiva da Reciclus. “Não acreditamos apenas no ‘para’, mas especialmente no ‘com’: com crianças, com jovens, com educadoras e educadores, com a comunidade. Sempre no coletivo, pois é nele que moram as reais oportunidades de engajamento e mudança.”

 

Entre esses materiais estão: 

  • O gibi “Uma Ideia Brilhante”, produzido em parceria com o Instituto Mauricio de Sousa, que apresenta de forma lúdica o problema das lâmpadas com mercúrio e a importância da logística reversa.
  • O e-book “Investigar, Sentir e Pertencer”, voltado a professores da educação infantil e dos anos iniciais, com orientações sobre pertencimento à natureza, observação sensível e uso de materiais não estruturados.
  • O “Guia para Professores”, organizado pelo biólogo e educador Samuel Cunha, com estratégias práticas para trabalhar educação ambiental com o 6º ao 9º ano e o ensino médio.


A Cartilha do Bem, desenvolvida pela ABES-SP (Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental de São Paulo), em parceria com a Reciclus, com a ABRE (Associação Brasileira de Reciclagem de Eletroeletrônicos e Eletrodomésticos), e com a Prolata (Programa nacional voltado à reciclagem de embalagens de aço), também apresenta de forma acessível o caminho correto dos diversos tipos de resíduos e ajuda estudantes a compreenderem o ciclo completo da logística reversa, ou seja, do descarte correto.


Confira, no vídeo abaixo, as sugestões da professora de ciências Thaís Sanches, no Canal Thaisplicando:

 

 

Estímulo ao debate
Segundo Camilla Horizonte, muitos professores têm vontade de trabalhar educação ambiental, mas não conseguem acessar materiais confiáveis, alinhados à BNCC (Base Nacional Comum Curricular) ou adequados à faixa etária.

 

O relatório “Educação sobre Mudanças Climáticas: Percepções e Práticas de Professores no Brasil” revela que 92% dos professores consideram a educação climática muito importante, mas a maioria ainda enfrenta falta de formação, apoio institucional e recursos pedagógicos para trabalhar o tema de forma contínua nas escolas. O estudo ouviu 1.600 professores de todas as regiões do país, das redes pública e privada.

 

Camilla explica que, ao oferecer materiais gratuitos e formações, a Reciclus apoia educadores que querem transformar suas práticas, mesmo em contextos de baixa infraestrutura. “O objetivo é democratizar o acesso ao conhecimento ambiental para que escolas públicas e privadas, independentemente de localização ou recursos, possam desenvolver projetos consistentes.”

 

O impacto desse trabalho já aparece em iniciativas como a da Biblioteca Pedagógica Professora Cleonice Teresinha Mercuri Quitério, de Limeira, interior de São Paulo. O espaço se tornou um polo de iniciativas ambientais e culturais, ligadas ao cotidiano das escolas municipais.

 

No começo deste ano, a bibliotecária Taciana Lefcadito Alvares, que ali trabalha desde 2011, desenvolveu um projeto de acolhimento inspirado no livro “Azul e lindo: Planeta Terra, nossa casa”, de Ruth Rocha e Otávio Roth. As crianças produziram desenhos sobre ações de cuidado com o planeta, fizeram de votações públicas e receberam certificados e prêmios simbólicos.

 

Elas também participaram do projeto itinerante “A Árvore – Biomas Brasileiros”, uma obra de arte colaborativa executada há mais de 30 anos, composta por desenhos de crianças de mais de 70 países. Idealizada pelo artista visual Otávio Roth na Escola Internacional das Nações Unidas, em 1990, a obra segue mobilizando crianças e adolescentes. Qualquer secretaria de educação pode inscrever suas escolas para participar da iniciativa.

 

Taciana afirma que as crianças se envolvem muito quando percebem que suas ideias são levadas a sério pela escola. “A turma ensina em casa o que aprende. São meninos e meninas que se tornam multiplicadores dentro de casa e na comunidade”, explica.

 

A atuação da Reciclus fortaleceu ainda mais essa rede de ações ao promover uma formação com Samuel Cunha, que reuniu 74 professores da rede municipal. A biblioteca recebeu mais de 2,5 mil gibis e 500 cartilhas, distribuídos às escolas da região.

 

Confira a galeria de imagens:

 

 

Por onde começar?

Levar educação ambiental para a sala de aula pode começar com gestos simples: observar o clima, registrar a temperatura, investigar o consumo de água, usar histórias literárias para discutir cuidado e pertencimento, pesquisar o caminho do lixo do bairro ou refletir sobre os impactos das enchentes e ondas de calor na comunidade. Esses movimentos ampliam o repertório dos estudantes e fortalecem a capacidade de análise crítica sobre o mundo.



“O melhor caminho é começar pelo simples, considerando sempre a realidade da escola e da comunidade. Inspirações são importantes, mas só fazem sentido quando adaptadas ao contexto em questão”, aponta Camilla Horizonte. 

 

Segundo Camilla, para desenvolver projetos ligados à educação ambiental, é interessante considerar toda a comunidade escolar pensando em como o projeto se insere na realidade da escola, tanto nas relações entre as pessoas como na perspectiva interdisciplinar. “De que forma o projeto dialoga com outros conteúdos e disciplinas?”, sugere como primeiro ponto. “A construção da educação ambiental é um processo que precisa ser semeado para germinar”, incentiva.

 

A educação ambiental promove ações práticas resumidas nos 5Rs:

1. Repensar hábitos de consumo ao fazer compras.
2. Recusar produtos que causem danos ao meio ambiente ou à saúde.
3. Reduzir a geração de resíduos individual e coletivamente.
4. Reutilizar sempre que possível (por exemplo, transformando potes de vidro em copos ou embalagens de amaciante em vasinhos).
5. Reciclar. Além disso, a lei estabelece a Responsabilidade Compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos. Esse conceito está ligado à logística reversa, que obriga quem produz a receber de volta o item após o uso, garantindo reaproveitamento ou descarte correto.

Fonte: Cartilha do Bem – Aprendendo a Cuidar do Meio Ambiente – Reciclus

 

Fonte: Por vir


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