Ministério Publico do Estado de Mato Grosso

Sustentabilidade além da reciclagem

por Redação USP

terça-feira, 17 de junho de 2025, 13h54

O transporte de mercadorias se tornou um pilar da economia brasileira, impulsionado durante a pandemia e atualmente com mais de 600 mil sites de e-commerce no Brasil, segundo dados da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico, mas agora as empresas devem checar se estão preparadas para cumprir com a responsabilidade ambiental. Marcelo Marini Pereira de Souza, professor orientador de pós-graduação em Sustentabilidade da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP, comenta: “As empresas como regra estão preocupadas com a economia de baixo carbono, ou seja, a emissão de menos carbono, que é fundamental, as mudanças climáticas estão aí e requerem uma mudança de postura”.

 

Marini reconhece iniciativas positivas como o ESG (Environmental, Social and Governance), que impõe às empresas, de maneira voluntária, um sistema de condutas, que admite ser muito produtivo. “Nós temos que examinar com cuidado os aspectos ambientais, é claro e evidente que uma embalagem reusável, reciclável, é muito melhor que o saquinho plástico que vai acabar lá nos mares, não é? Mas é muito insuficiente para a gente falar em sustentabilidade ou que a economia seja uma beleza do ponto de vista de baixo carbono. Outro exemplo muito claro que pega diretamente em nós brasileiros é a extrema desigualdade na carga tributária, quem paga imposto é o assalariado e é o consumo. Aqueles que têm renda, riqueza, propriedade não pagam impostos, não é? Distribuição de lucro não paga.”

 

Enquanto os consumidores chegam a pagar até 40% de impostos sobre seus gastos, os mais ricos e detentores de propriedades praticamente não são tributados nesses aspectos. Essa disparidade, somada a um modelo baseado no consumo excessivo, inviabilizaria qualquer pretensão de sustentabilidade real.

 

Transformações estruturais

 

Marini enfatiza que a verdadeira sustentabilidade exige transformações estruturais muito mais amplas, que vão além das medidas pontuais adotadas atualmente pelas empresas de logística. Para ele, essas ações iniciais são positivas, mas insuficientes para garantir uma vida realmente sustentável para a população. Mudanças profundas no sistema exigem tempo e reformas estruturais, não sendo possível transformações significativas no curto prazo de forma pacífica e civilizada.

 

O professor Marcelo Marini critica a concentração de poder na oligarquia econômica e defende a necessidade de conscientização gradual da sociedade. Como exemplos das distorções do sistema menciona a baixa tributação sobre propriedades rurais: o ITR (Imposto Territorial Rural) de todas as fazendas do Brasil arrecada menos que os impostos de um único bairro paulistano, os baixos porcentuais pagos pelas mineradoras pela exploração de recursos naturais que deveriam beneficiar toda a população. “É possível que eu tenha que perder algo do ponto de vista econômico para que o social tenha um pouco mais de equidade, esse é o balanço. O desafio é decidir como esse ‘tripé’ econômico, ambiental, social pode compor o processo decisório e não apenas o econômico.”

 

Fonte: https://jornal.usp.br/radio-usp/sustentabilidade-alem-da-reciclagem/

 


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