Ministério Publico do Estado de Mato Grosso

Construções sustentáveis podem ser alternativa no combate às alterações climáticas

por Analice Candioto

quarta-feira, 12 de junho de 2024, 12h39

Materiais e tecnologias alternativas permitem construções sustentáveis – Foto: Vladimir Tasca, gerada por IA em Leonardo.ai

 

A cada ano testemunhamos um aumento na frequência e na intensidade de desastres naturais relacionados às mudanças climáticas, como enchentes, incêndios florestais e furacões. Esses eventos são um lembrete urgente da necessidade de repensar nossos padrões de consumo e produção, incluindo a forma como construímos nossas cidades.

 

De acordo com o Ministério do Meio Ambiente, 50% dos resíduos sólidos gerados pelo conjunto das atividades humanas no Brasil são resultado da construção civil. O cimento, por exemplo, um dos materiais mais usados nas construções, ao ser queimado, libera dióxido de carbono, que provoca uma série de alterações climáticas, como o aumento da temperatura, poluição do ar e a formação de chuva ácida. Segundo o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), a indústria de construção civil é responsável por cerca de 40% das emissões globais de carbono.

 

A construção sustentável pode ser uma saída para essa realidade, pois traz formas de se construir casas e edifícios amenizando os impactos à natureza. Akemi Ino, professora do Instituto de Arquitetura e Urbanismo (IAU) da USP em São Carlos e coordenadora do Grupo de Pesquisa em Habitação e Sustentabilidade (Habis), explica que uma construção sustentável é a que utiliza materiais de fontes renováveis, ou seja, fontes que se regeneram. “Grande parte dos materiais usados nas construções sustentáveis são à base de minérios, extraídos da terra, como a terra e a madeira.”

 

A arquiteta e urbanista Lara Bossaerts, mestranda em Ecologia pela Universidade de Brasília (UnB), aponta que entre esses materiais a terra é o principal elemento construtivo, por ser de fácil acesso e baixo custo. A terra pode ser utilizada por meio de técnicas de construção, como o tijolo de adobe (feito com terra, argila e areia), pau a pique (feito com madeira ou bambu), taipa de pilão (feito com barro) e o tijolo ecológico (fabricado com materiais reciclados ou resíduos de construção).

 

Além dos materiais, Lara também destaca que podem ser usadas tecnologias que contribuem para a eficiência energética e para a redução de impactos ambientais. “Algumas das tecnologias utilizadas em construções sustentáveis, como os painéis solares para a geração de energia elétrica, o aquecimento solar para o uso da água residencial, o reaproveitamento das águas da chuva por meio de armazenamento em cisternas, e a instalação de biodigestores para tratamento de esgoto reduzem a sobrecarga dos sistemas urbanos e utilizam os recursos naturais de uma forma limpa, sem produzir maiores resíduos, o que reduz impactos ambientais.” Essas são algumas das soluções que buscam por fontes de energia renováveis e que podem ser aplicadas em construções sustentáveis residenciais,” destaca a arquiteta.

 

Entretanto, a professora Akemi Ino aponta a falta de acessibilidade dos materiais para toda a população. “Teria que ser pensado em uma maior acessibilidade para a população, podemos desenvolver a engenharia e a indústria de construção, mas o produto resultante tem que ser de alta qualidade e barato. Essa questão da madeira engenheirada, por exemplo, são de processos industrializados e de alto custo.” 

 

O arquiteto e doutorando da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP Luiz de Lucca Neto lembra que não podemos falar somente sobre os benefícios de uma construção sustentável, é necessário relacionar as formas de construir cidades com o objetivo de mudar o cenário de condições climáticas e desastres ambientais frequentes. “A construção sustentável pode ter um impacto econômico bastante importante e uma transformação social, caso a gente opte por fazer um planejamento que venha a resolver essas questões. Os benefícios ambientais não podem ser pensados somente desatrelados aos aspectos econômicos e sociais de um projeto de construção sustentável.”

 

Lucca Neto acrescenta que o País tem tecnologias de planejamento que são produzidas, inclusive, nas universidades brasileiras para enfrentar o problema das mudanças climáticas, mas que o nosso maior desafio é político. “A situação da construção sustentável deve ser pensada como política pública por meio do Estado. É evidente que existe uma resistência muito grande no sentido das questões que envolvem a política nacional, de enfrentar essas questões, como nos desastres que têm ocorrido recentemente.” O arquiteto explica que isso se deve à falta de investimento em infraestrutura, planejamento e da construção de locais dignos para as pessoas morarem, que não estejam em situação de risco. 

 

A professora Akemi Ino também acredita que as construções sustentáveis possam ajudar a combater questões climáticas, mas, para isso, precisa de uma forte política governamental e mudar o paradigma sobre as bases de uma construção. ”Precisa de uma política governamental muito forte e investimento para poder mudar esse paradigma de que construção tem que ser à base de concreto, ferro, alumínio e vidro, e que uma infraestrutura precisa de muito asfalto e áreas impermeabilizadas. É uma mudança muito grande, mas que é necessária.” Para substituir o cimento e outros materiais, que são base em construções, podem ser usados materiais naturais e renováveis, como, por exemplo, a madeira, o bambu e a terra, aponta Akemi Ino.

 

Fonte:https://jornal.usp.br/campus-ribeirao-preto/construcoes-sustentaveis-podem-ser-alternativa-no-combate-as-alteracoes-climaticas/


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