Em um mês, fogo já consumiu mais de 5 mil hectares do Parque Cristalino
segunda-feira, 12 de setembro de 2022, 17h33
Proprietários rurais formaram brigadas, que já atingiram imóveis rurais e habitações

O Parque Estadual Cristalino I e II, situado no sul da Amazônia e norte de Mato Grosso, está sendo destruído pelo desmatamento e queimadas. Desde o dia 13 de agosto, a unidade de conservação já perdeu 5.080 hectares. Na área de entorno, o fogo já consumiu mais 1.800 hectares e atingiu propriedades rurais e habitações. Ao todo, o parque tem 184.900 hectares e está localizado entre os municípios de Alta Floresta e Novo Mundo, divisa entre Mato Grosso e Pará.
Os dados foram divulgados pelo projeto Observatório Socioambiental de Mato Grosso (Observa-MT). Até domingo (11), segundo a entidade, não foi registrada a presença de instituições públicas de defesa do meio ambiente no combate ao fogo. No lugar, foi criada uma Brigada de Combate aos Fogo, iniciativa de propriedades privadas para combater os incêndios no parque e em propriedades particulares do seu entorno.
Segundo a coordenadora da Rede Nacional Pró-Unidades de Conservação, Ângela Kuczavh, as equipes que atuam no combate ao fogo sofrem com a falta de brigadistas e equipamentos adequados, como aeronaves, e por isso é solicitado reforço ao Governo do Estado.
O Parque Cristalino I e II é uma das unidades de conservação mais importantes da Amazônia, com 600 espécies de aves registradas, das 850 existentes em toda a Amazônia brasileira. Dessas 600 espécies, 25 delas estão oficialmente ameaçadas de extinção. Outra espécie única no mundo é o macaco-aranha-de-cara branca (Ateles marginathus), símbolo do parque.
Pedido de extinção
Segundo o Observa-MT, a queimada sem controle da unidade de conservação teve início logo após o Tribunal de Justiça de Mato Grosso anunciar decisão judicial favorável a uma empresa agropecuária reivindica a extinção do Parque Cristalino II, que tem 118 mil hectares.
Segundo a consultora jurídica e de articulação da entidade, Edilene Amaral, o Ministério Público de Mato Grosso conseguiu reverter em parte a ação que deve ter ainda uma decisão final junto aos órgãos superiores de justiça, no entanto, a possibilidade da extinção da unidade de conservação "estimula as ações criminosas de grilagem, desmatamentos e de incêndios florestais na região".

Amazônia em chamas
Conforme dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), foram registrados 112.749 focos de calor no Brasil entre os dias 1 de julho até o dia 9 de setembro, 60% deles, na Amazônia. Apenas Mato Grosso responde por 30% das queimadas na Amazônia Legal. Conforme dados coletados pela plataforma Global Fire Emission Data Base ( GFED/NASA), de 1 janeiro de 2022 até o dia 7 de agosto, foram queimados 3,7 milhões de hectares, sendo 1,9 milhões de hectares queimados no período proibitivo (1 de julho a 30 de outubro).
A região norte de Mato Grosso, no Arco do Desmatamento, é alvo de grilagem de terras públicas e invasão de unidades de conservação e territórios indígenas. A área do Parque Estadual Cristalino I e II pertencia à União e foi doada ao Governo de Mato Grosso quando o parque foi criado a partir de 2000 e 2001, respectivamente.

Alertas do Inpe
Entre os dias 1 de julho até o dia 2 de setembro, o Inpe emitiu 3.099 alertas referentes a uma área de 5.719,67 km² na Amazônia, dos quais 2.770,57 km² correspondem à Amazônia mato-grossense. Ainda em agosto, o MapBiomas, iniciativa do SEEG/OC (Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa do Observatório do Clima) divulgou que o Brasil já perdeu 13% da vegetação nativa da floresta amazônica nos últimos 37 anos.
O desmatamento atingiu 830.429 km² até 2021, ou uma perda de cerca de 21% da área total original da floresta (Prodes, Inpe). Em 2021, a cobertura vegetal dessa região distribuía-se em floresta nativa (63%) e vegetação nativa não florestal (19%). O restante da área (2%) é composto pela rede hidrográfica de rios e lagos.
O Observa-MT salienta que a preservação da Amazônia é fundamental para a manutenção dos serviços climáticos, como a chuva, além de contribuir para as metas de gases de efeito estufa e reduzir os efeitos do aquecimento global.
Fonte: RD NEWS