TJCE: Setembro Azul: compromisso com a visibilidade e inclusão da comunidade surda no Judiciário cearense
terça-feira, 09 de setembro de 2025, 13h56

Na comunidade surda, a cor azul tornou-se símbolo de resistência, mas também de existência. Com duas datas importantes – o Dia Internacional das Línguas de Sinais (23/09) e o Dia Nacional do Surdo (26/09) – o mês foi escolhido para celebrar e dar voz a uma parcela da sociedade que, muitas vezes, ainda é invisível.
Entender e fazer-se entender pode parecer simples, mas para as pessoas surdas a realidade é bem mais complexa. “Quantos surdos já chegaram aqui no Fórum Clóvis Beviláqua atrás de uma certidão? Já aconteceu comigo, nem ele sabia o que queria. Daí a importância do intérprete dentro da Justiça, para ajudar esse público que chega aqui querendo um documento, uma informação de um processo”, conta Maria Cleidimar Bezerra, que trabalha no Fórum desde 2008 como intérprete de Libras, por meio da parceria do Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE) com a Associação de Pais e Amigos do Deficiente Auditivo (Apada).
Cleidimar conta que viu muita mudança acontecer ao longo dos anos. “Os chefes dos departamentos se interessaram em contratar mais intérpretes, mais surdos. As faculdades agora têm intérprete, cursos que têm como obrigatória a disciplina de Libras”. Para além da comunicação, a comunidade surda busca outro apelo: oportunidade profissional.
Desde 1998, o convênio do TJCE com a Apada proporciona exatamente isso: oportunidades de trabalho para esse público. Pioneiro na contratação de pessoas surdas, o Judiciário cearense mantém a parceria com a Associação há quase três décadas. Raimunda Custódia Soares, que integra o projeto desde o início, entrou no Fórum como higienizadora de processos. “Aprendemos a desarquivar processos, depois a digitalizar, fazer reposição. Alguns surdos foram para a distribuição, para o malote. E é muito importante essa inclusão para trabalharmos com os ouvintes também”, explica.
Nelson Jucá Sousa Araújo também faz parte dessa primeira contratação e testemunha o aumento de espaço no trabalho. “Antigamente era só um intérprete; foi aumentando tanto o número de surdos quanto o de intérpretes. As pessoas foram aprendendo a se comunicar em Libras, buscando fazer cursos. É muito importante essa comunicação dentro do trabalho. O intérprete é muito importante para fazer essa intermediação e trabalhar com os ouvintes”, pontua.
A chegada da primeira intérprete de Libras ao Judiciário cearense, Mirella Cacau Costa Soares Ferreira, em 1998, foi fundamental para romper a barreira da comunicação. “É muito bom a gente incluir essas pessoas que se sentem muitas vezes tão excluídas pela falta de comunicação. Era muito mais difícil antes. O máximo que se via de trabalho para surdos era empacotador em mercantil. Hoje em dia temos muitos surdos formados, doutores. As portas estão se abrindo cada vez mais, e as informações chegam cada vez mais para as pessoas: de que eles são capazes, tão capazes quanto quem ouve.”
Convênio do TJCE com a Apada proporciona oportunidades de trabalho
JUSTIÇA EM LIBRAS
Com o intuito de incentivar e mostrar a capacidade das pessoas surdas, o TJCE recentemente lançou uma iniciativa inédita voltada para a acessibilidade e inclusão: o Justiça em Libras. O projeto contribui para a formação cidadã e o desenvolvimento de estudantes surdos por meio do conhecimento do Direito e do funcionamento do Poder Judiciário estadual. A parceria envolve, além da Apada, o Instituto Cearense de Educação de Surdos (Ices) e o Instituto Filippo Smaldone.
Além de videoaulas traduzidas em Libras sobre a estrutura e o funcionamento do Judiciário, o projeto possibilitou aos alunos acompanharem um júri na Escola Superior da Magistratura do Ceará (Esmec). Eles também realizarão júris simulados nas instituições.
Mais do que uma celebração das conquistas, o Setembro Azul é um convite à reflexão sobre os obstáculos ainda enfrentados pela comunidade surda em áreas como educação, mercado de trabalho e acesso a serviços públicos. “Havia muita discriminação antigamente, por não terem informações sobre o que o surdo é capaz. Hoje melhorou muito”, afirma Fernando Antônio Bezerril Figueiredo, que trabalha no Fórum desde a primeira turma. “Este mês de setembro é importante para a conscientização de que os surdos são iguais. São pessoas também, iguais às outras, aos ouvintes, e a gente luta por igualdade. Luta para conseguir uma comunicação mais eficaz”, finaliza Raimunda Custódia, prestes a se aposentar após anos de dedicação.
SAIBA MAIS
21/09
Dia Nacional de Luta das Pessoas com Deficiência
23/09
Dia Internacional das Línguas de Sinais
26/09
Dia Nacional do Surdo
30/09
Dia Internacional do Intérprete de Línguas de Sinais
Fonte: TJCE
