INCLUSÃO E MOBILIZAÇÃO SOCIAIS
Medalhista de ouro paralímpico recebe cadeira de rodas de instituição reestruturada com ação do MPMG
terça-feira, 31 de agosto de 2021, 09h24
29/08/2021
Gabriel Araújo usa equipamento adaptado pelo CER de Diamantina, instituição quase fechou as portas por causa de dívidas
Duas das medalhas do Brasil nas Paralimpíadas de Tóquio têm um gostinho especial para a equipe do Centro Especializado em Reabilitação (CER IV) de Diamantina e também para o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG): foi lá que o atleta mineiro Gabriel Geraldo Santos Araújo, 19 anos, que conquistou a primeira medalha do país na competição, a prata nos 100m costas na categoria S2, e voltou ao pódio no domingo, com ouro nos 200m livre, recebeu a sua tão sonhada cadeira de rodas motorizada, em janeiro de 2020, ganhando autonomia na locomoção e nos treinos.
Gabriel chamou a atenção de um médico da cidade ao usar o smartphone com os pés que encaminhou o atleta para atendimento no CER e para receber a cadeira de rodas fornecida pelo SUS. Na época, o agora medalhista paralímpico postou em suas redes sociais: "Me faltam palavras para expressar tamanha alegria, mas queria dizer que estou profundamente agradecido por essa doação do CER de Diamantina...realizei mais um sonho e agora consigo ainda mais alcançar a minha independência. Muito obrigado a todos os envolvidos, vocês mudaram a minha vida".

Um dos primeiros CER do Brasil, implantado em 2013, e o Hospital Nossa Senhora da Saúde, braços da Irmandade Nossa Senhora da Saúde, hoje são referências no atendimento, depois da atuação do MPMG. Em 2016, eles chegaram a fechar as portas. Na época, a dívida chegava a R$ 25 milhões, o déficit mensal estava em R$ 1,1 milhão, para uma receita de R$ 1 milhão, e os funcionários estavam há 11 meses sem receber. A 2ª Promotoria de Justiça de Diamantina abriu inquérito civil para investigar a empresa que administrava a Irmandade, encontrando várias irregularidades que resultaram no ajuizamento de uma Ação Civil Pública (ACP) que afastou a empresa e os membros dela, intervenção judicial e uma ação penal. A antiga gestora foi condenada recentemente a ressarcir a Irmandade em cerca de R$ 10 milhões.
Segundo o promotor Luís Gustavo Patuzzi Bortoncello, ao longo da ACP foram definidas novas receitas e serviços e redução de despesas. A Irmandade recebeu nova direção, determinante na recuperação da instituição. Hoje, o hospital que tem 93% da receita proveniente do Sistema Único de Saúde (SUS), ao lado da Santa Casa de Caridade, é responsável por todos os atendimentos de média e alta complexidade da região do Jequitinhonha e, recentemente, inaugurou novos serviços como tomografia e CTI Adulto. Ainda hoje, a Promotoria realiza reuniões quinzenais com a direção da Irmandade para acompanhar a situação.
Considerado um dos mais importantes centros de reabilitação do país, com a saúde financeira em dia, o CER Diamantina pôde fornecer a cadeira para o atleta paralímpico. Segundo a diretora da instituição, Tereza Cristina Santiago e Faria, a cadeira foi adaptada para o atleta para que ele conseguisse acionar os comandos com os pés, já que não tem os braços. Gabriel Araújo é portador de focomelia, doença congênita que provoca má formação dos membros. A rapidez com que o atleta se adaptou à cadeira surpreendeu a equipe da provedora Themis Maria Mandacaru: os gerentes Roggerio Aguilar Ferreira da Silva, Letícia Araújo Neves Sena, a fisioterapeuta Vanessa Ribeiro, a terapeuta ocupacional Hamanda Rocha e o técnico Alan Gomes.
Em Tóquio, o atleta do Clube Bom Pastor, de Juiz de Fora, usa a cadeira enquanto se prepara para a disputa de mais duas provas, os 200m livre e os 50m costas. Aos 17 anos, em 2019, Gabriel conquistou cinco medalhas nos Jogos Para Pan-americanos de Lima, no Peru. Foram duas de bronze, uma de prata e duas de ouro. Ele começou a nadar ainda criança, em Corinto, onde foi criado, e passou a competir nos Jogos Escolares de Minas Gerais. Torcedor do Cruzeiro, o atleta gosta de comemorar as conquistas com dancinha no pódio e tem presença marcante nas redes sociais. No próximo ano, o medalhista paralímpico deve retornar a Diamantina para trocar a sua cadeira de rodas no centro que fornece cerca de 600 unidades por ano para pessoas de cidades atendidas por ele.