Ministério Publico do Estado de Mato Grosso

Conselho Municipal repudia interdição de centros de saúde mental de BH e pede que CRM reveja decisão

sexta-feira, 13 de agosto de 2021, 17h16

Conselho Regional de Medicina (CRM-MG) havia proposto interdição ética nos Centros de Referência em Saúde Mental (Cersams) da capital, sob pena de inviabilizar atendimento médico nos espaços. Conselho Municipal de Saúde aprovou resolução sobre o assunto.


Decisão do Conselho Municipal de Saúde foi comunicada em coletiva de imprensa, nesta sexta-feira (13) — Foto: Jefferson Lorentz Barbosa/Ascom/CMSBH

Decisão do Conselho Municipal de Saúde foi comunicada em coletiva de imprensa, nesta sexta-feira (13) — Foto: Jefferson Lorentz Barbosa/Ascom/CMSBH

 

O Conselho Municipal de Saúde de Belo Horizonte (CMS-BH), em coletiva na manhã desta sexta-feira (13), apresentou uma resolução contra a interdição ética dos Centros de Referência em Saúde Mental (Cersams) do município. O evento contou com depoimentos de usuários e profissionais das unidades.

 

Ainda nesta sexta, o Conselho protocolou um ofício no Ministério Público, pedindo que sejam adotadas "providências jurídicas cabíveis".

 

Pacientes e médicos protestam contra interdição de Centros de Saúde Mental de BH.

 

Resolução 474/21, aprovada em plenária do CMS-BH na semana passada, repudia a interdição ética nos Cersams da capital proposta pelo Conselho Regional de Medicina (CRM-MG).

 

Prefeitura de BH pede prazo de 60 dias para responder ao CRM sobre interdição de centros de saúde mental

 

O documento ainda solicita que a Secretaria Municipal de Saúde (SMSA-BH) apresente um plano de ações, no prazo de 30 dias, para solucionar os problemas nas unidades que prestam serviços de saúde mental, "considerando as necessidades de ampliação e recomposição das equipes profissionais, educação permanente, insumos e recursos materiais em quantidade e qualidade adequadas".

 

Por fim, a deliberação recomenda que a SMSA acione a Procuradoria Geral do Município (PGM), para a defesa dos centros e da rede de atenção psicossocial do Sistema Único de Saúde (SUS) de Belo Horizonte.

 

Veja o resumo da resolução a seguir.

"Resolve:

 

  1. Repudiar o indicativo de interdição ética dos CERSAMs pelo Conselho Regional de Medicina (CRM-MG)
  2. Reafirmar a defesa da rede de atenção psicossocial (RAPS) do SUS-BH, dos CERSAMs e dos SUPs, em seu modelo de cuidado em liberdade e antimanicomial;
  3. Que a SMSA apresente um plano de ações no prazo de 30 (trinta) dias para enfrentar problemas CERSAMs, considerando as necessidades de ampliação e recomposição das equipes profissionais, educação permanente, insumos e recursos materiais em quantidade e qualidade adequadas, com foco na garantia de condições de trabalho e na qualidade do cuidado às pessoas em sofrimento mental;

 

Recomenda:

 

  1. Ao CRM-MG, que reveja sua posição considerando as características do modelo assistencial dos CERSAMs e o fato de que a interdição de 8 (oito) CERSAM, 5 (cinco) CERSAMs AD e 3 (três) CERSAMis e 2 Serviços de Urgências Psiquiátricas (SUPs) acarretaria um imediato o colapso da atenção às urgências em saúde mental, com sérias consequências e grandes riscos para os milhares de usuários e seus familiares;
  2. À SMSA, que acione a Procuradoria Geral do Município (PGM) para a defesa dos CERSAMs e do trabalho multiprofissional na RAPS."

 

Interdição geraria colapso

 

De acordo com o CMS-BH, até junho deste ano, os Cersams realizaram quase 80 mil atendimentos. Ao longo de 2020, foram mais de 143 mil. Com isso, o conselho alega que o pedido do CRM pode impedir o trabalho de médicos nas 16 unidades do município, o que "acarretaria um imediato colapso da atenção às urgências em saúde mental, com sérias consequências e grandes riscos para os milhares de usuários e seus familiares".

 

"Quando estou em crise, a primeira porta que busco é o centro de saúde. Quando eu chego lá e eles não tem aparato para me acolher, eles me mandam para o Cersam. No Cersam, eu sempre fui bem atendido. Que viva o Cersam e que esses manicômios da vida, que ainda existem alguns, sejam fechados", afirma Geraldo Batista, usuário do Centro de Convivência São Paulo.

 

A apresentação também teve a presença de médicos e membros da Associação de Usuários dos Serviços de Saúde Mental (ASUSSAM), do Fórum Mineiro de Saúde Mental e do Conselho Estadual de Saúde (CES-MG).

 

"Estamos muito apreensivos. Essa ameaça de interdição veio sem nenhuma conversa conosco, infelizmente. Além de trazer inquietação para os profissionais, a gente percebe, no dia a dia, pânico, terror, temor para os usuários, para os familiares", afirmou o psiquiatra Políbio Campos, do Cersam Noroeste.

 

CRM-MG viu irregularidades

 

Em nota divulgada pelo Conselho Regional de Medicina (CRM-MG) no dia 24 de julho, a entidade afirmou que preparava uma "interdição ética das atividades médicas" nos centros de saúde mental, alegando ter identificado irregularidades durante vistorias nas 16 unidades da capital.

 

Segundo o CRM-MG, o pedido à PBH foi para que os profissionais médicos não trabalhem mais nas unidades, caso as condições atuais permaneçam.

 

O órgão também exigiu a presença de um diretor técnico permanente em cada unidade, e disse que as fiscalizações nos Cersams começaram em 2007, depois que chegaram denúncias sobre falta de estrutura adequada para atendimento.

 

G1 procurou o CRM-MG, após a coletiva desta sexta-feira (13), para um novo posicionamento, mas não recebeu retorno.

 

Conselho Regional de Medicina ameaça proibir médicos de atuarem em CERSAMs

Conselho Regional de Medicina ameaça proibir médicos de atuarem em CERSAMs

 

O que diz a Prefeitura de Belo Horizonte

 

A Prefeitura de Belo Horizonte foi procurada pelo G1, no dia 6 de agosto, para uma posição sobre a interdição proposta pelo CRM-MG. Na ocasião, a PBH afirmou que pediu um prazo de 60 dias ao órgão para dar uma resposta.

 

Nesta sexta-feira (13), questionada sobre a resolução do Conselho Municipal de Saúde, que estipula um prazo de 30 dias à SMSA para a apresentação do plano de ações nos Cersams, a prefeitura manteve o posicionamento anterior.

 

"A Prefeitura de Belo Horizonte informa que irá analisar, no prazo acordado com o Conselho Regional de Medicina (60 dias), os apontamentos feitos pelo órgão. A Secretaria Municipal de Saúde mantém diálogo constante com o Conselho Municipal de Saúde. A PBH esclarece ainda que a Procuradoria Geral do Município (PGM) está prestando apoio desde o início das discussões", afirmou, em nota.

 

 

 

Por Leonardo Milagres*, G1 Minas — Belo Horizonte
*Estagiário com supervisão de Cristina Moreno de Castro

 

 

 

Fonte: G1


topo