Ministério Publico do Estado de Mato Grosso

Desmatamento pode acabar com peixes dos rios do Pantanal

por Eunice Ramos e Joice Gonçalves

quinta-feira, 07 de agosto de 2025, 14h34

O desmatamento ameaça os peixes dos rios que abastecem o Pantanal e servem de alimento e renda para muitos pantaneiros. O catador de iscas Divino da Costa Soares teme essa ameaça. Ele inicia sua jornada ainda de madrugada dedicando os dias à captura da tuvira (pequeno peixe essencial na pesca esportiva), que abastece barcos-hotéis e pousadas responsáveis por movimentar o turismo em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.

 

“Eu vendo na cidade, pros barcos, hotéis… Hoje mesmo eu vou descer até o Rio Paraguai pra entregar o que pegamos. A gurizada fica aqui, meus filhos, minha esposa, meu sobrinho. É um trabalho de família”, conta Divino.

 

 

 

 

O cenário onde a família trabalha é também seu lar. No acampamento, Cleodineia de Almeida Leite, esposa de Divino, cuida das iscas com a experiência de quem já atua na atividade há 35 anos.

 

“Só de ver essa paisagem do Pantanal, parece que já levanta o astral. Na cidade é tudo correria. Aqui é mais tranquilo. E é o sustento da nossa família”, afirma.

 

🌿 Muito além do sustento: o papel ecológico da pesca

 

A pesca não é apenas uma fonte de renda para as famílias ribeirinhas. Ela movimenta a economia local com dezenas de barcos-hotéis que empregam moradores e atraem turistas do Brasil e do exterior.

Além disso, os peixes cumprem um papel essencial na manutenção do equilíbrio ambiental. Espécies como o pacu, por exemplo, se alimentam de frutas e ajudam a dispersar sementes, contribuindo para a regeneração natural de áreas degradadas.

“O pacu é um peixe muito importante. Ele faz parte da nossa aliança para restauração do Pantanal”, explica o professor Jerry Penha, da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). “Peixes migradores como ele levam nutrientes rio acima e fertilizam outras áreas. Alguns ainda atuam como controladores de pragas.”

Após apresentar um exemplar saudável de 40 cm, o professor devolve o peixe à natureza: “Vamos soltar, né? Ele pertence a esse ecossistema.”

 

 

 

 

 

Ameaças visíveis

 

Apesar de sua importância ambiental e econômica, o Pantanal enfrenta múltiplas ameaças. Desmatamento nas cabeceiras dos rios, construção de barragens, uso excessivo de defensivos agrícolas e o fogo cada vez mais intenso têm comprometido o equilíbrio da região.

 

Segundo o professor Jerry Penha, o assoreamento dos rios e a contaminação das águas já afetam diretamente os estoques pesqueiros.

 

“A navegação da hidrovia também é preocupante. A dragagem muda a dinâmica dos rios, afeta habitats e compromete espécies como o pacu, que depende das florestas frugívoras para se alimentar”, explica.

 

 

Impactos que ultrapassam os limites do bioma

 

As consequências, no entanto, vão além da fauna aquática. O Pantanal é um sistema interligado e delicado. Qualquer interferência pode desencadear uma reação em cadeia com impactos em outras regiões do Brasil e da América do Sul.

 

“Um ambiente desregulado significa maior risco de doenças, desastres naturais e perda da atividade econômica”, alerta Carlos Eduardo, professor do Instituto de Economia da UFRJ e colaborador do Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais da Unemat. “Com a degradação, perde-se sobretudo qualidade de vida.”

 

 

 

 

Preservar é urgente

 

Diante desse cenário, especialistas defendem a urgência de ações de reflorestamento e proteção das margens dos rios. Sem isso, a maior planície alagável do planeta pode não resistir às pressões do desenvolvimento desordenado e às mudanças climáticas.

 

 

 

Enquanto isso, famílias como a de Divino e Cleodineia seguem trabalhando, equilibrando tradição e resistência em meio à paisagem única do Pantanal.

 

Fonte: Portal Primeira Página.


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