TJRS: Conheça o projeto Colmeia, homenageado no 22º Prêmio Innovare
sexta-feira, 05 de dezembro de 2025, 12h16
Finalista e homenageado no 22º Prêmio Innovare 2025, na categoria Tribunal, o Projeto Colmeia se destaca por promover o acesso de adolescentes em situação de acolhimento à política de trabalho e geração de renda, contribuindo diretamente para sua qualificação profissional e autonomia na transição para a vida adulta. Idealizada pela Coordenadoria da Infância e Juventude do Rio Grande do Sul (CIJRS), a iniciativa reafirma o compromisso do Poder Judiciário com a inclusão social, oferecendo aos jovens não apenas experiência profissional, mas também valores essenciais para a construção de uma trajetória cidadã.
O projeto contempla adolescentes entre 16 e 17 anos, que recebem bolsa auxílio paga pelo TJRS para atuar em unidades jurisdicionais e podem permanecer no estágio por até dois anos. Desde sua implementação, o Colmeia já proporcionou oportunidades a 86 adolescentes acolhidos em diferentes regiões do Rio Grande do Sul, promovendo integração, desenvolvimento de competências e conhecimentos sobre o mercado de trabalho. Dessa forma, eles têm acesso a uma vida financeira mais estruturada e atribuições que os preparam para o futuro.
O coordenador da CIJRS, Juiz-Corregedor Luís Antônio de Abreu Johnson, destaca que o projeto busca garantir que os jovens desenvolvam autonomia, aprendizado profissional e qualificação pessoal para ampliar suas perspectivas de futuro. “A transição para a vida adulta é um momento dos mais delicados, sobretudo para adolescentes e jovens em situação de vulnerabilidade, acolhidos institucionalmente. Nesse cenário, o Projeto Colmeia se afirma com prática jurídica inovadora, proporcionando acesso à política de trabalho e geração de renda para o adolescente”, considera o magistrado. Ainda, ressalta o compromisso do TJRS, por meio da CIJRS, com a inclusão social, oferecendo não apenas uma vaga de estágio profissionalizante, mas sobretudo valores fundamentais para a construção de uma trajetória cidadã. “Por fim, registro, em nome de toda a equipe da CIJ, a alegria e a honra de a prática ter sido destacada na 22ª edição do Prêmio Innovare”, celebra.
Cruz Alta: “oportunidade de escolha de vida”
A experiência tem sido considerada enriquecedora pela equipe da Central de Atendimento ao Público (CAP) da Comarca de Cruz Alta, unidade que recebe pela primeira vez um jovem do projeto Colmeia. Para a Juíza Katiuscia Kuntz Brust, a iniciativa oferece ao adolescente uma oportunidade única de fortalecer a autoestima e promover crescimento pessoal. “É consenso que ele se integrou muito bem, demonstrou inteligência e aplicou as orientações com agilidade”, afirma. A magistrada acrescenta que participar do projeto permite ao adolescente ressignificar sua própria percepção: “Ele passa a se ver como alguém importante, de valor, capaz de construir uma vida agradável e um futuro promissor”.
Para Susinéia Prais Ramires, gestora da CAP, o projeto vai além da prática funcional: “Este projeto traz mais que um simples estágio. Ele oferece aos estagiários uma oportunidade de escolha de vida em meio a tantas adversidades.” Além das atividades administrativas, a equipe busca transmitir valores essenciais para a vida profissional e pessoal. “Tentamos passar ensinamentos como ética, empatia, honestidade, respeito e amizade. Nosso objetivo é que os estagiários saiam preparados para decidir qual caminho seguir e que possamos fazer a diferença na vida deles.”
Johnny Fagundes Pereira, 17 anos, estudante do 2º ano do Ensino Médio, atua há 1 mês na Central. Ele destaca o aprendizado sobre o funcionamento do sistema Judiciário. “Tenho aprendido bastante, principalmente sobre como funciona o atendimento às pessoas que procuram a Justiça.” O adolescente acredita que a experiência será decisiva para sua trajetória: “Com esse conhecimento, poderei estudar quais áreas pretendo trabalhar um dia. Quero seguir carreira como funcionário público.”
Taquara: ” O aprendizado é mútuo”
Atualmente, dois estagiários do Colmeia atuam no Foro de Taquara, lotados na 2ª Vara Criminal e na 1ª Vara Cível. Para o Juiz da Infância e Juventude, Rafael Silveira Peixoto, a experiência tem sido enriquecedora para todos os envolvidos. “O ganho não é apenas para os adolescentes, mas também para os colegas e servidores das unidades, que se preparam de forma especial para recebê-los. Há um olhar de colaboração, compreensão e desejo genuíno de contribuir para o crescimento desses jovens que chegam por meio do projeto”, afirma.
Segundo o magistrado, a força do Colmeia está justamente na simplicidade da proposta, aliada ao impacto transformador que gera. “É algo singelo na concepção, mas profundo nos efeitos. Pelas experiências que tivemos, não há dúvida da mudança de perspectivas, do fortalecimento da autoestima e da valorização pessoal que o projeto proporciona. Muitos adolescentes mantêm vínculos com as equipes mesmo após o estágio, e alguns foram aproveitados em outras oportunidades de trabalho graças à experiência adquirida no foro”, destaca.
A Gestora da 2ª Vara Criminal, Rita de Cássia Renner, relata que a proposta trouxe desafios e aprendizados. “Quando ofereceram esta oportunidade, ficamos em dúvida sobre como seria, pois nunca havíamos trabalhado com adolescentes cursando o ensino médio e, por se tratar de uma vara criminal, não sabíamos quais atividades seriam mais adequadas. Mas a experiência tem sido gratificante para todos nós. O aprendizado é mútuo”, afirma. “Acolher e contribuir para o futuro do Gabriel, ao mesmo tempo em que aprendemos a lidar com adversidades, tem sido desafiador e satisfatório.” Segundo a servidora, além das habilidades técnicas, a equipe busca transmitir valores fundamentais: “Procuramos incentivar responsabilidade, disposição para aprender, autoconfiança, comprometimento, respeito, empatia, cooperação e ética.”
Gabriel Tirloni, 17 anos, estudante do ensino médio, está há quatro meses atuando na unidade e descreve a vivência como “maravilhosa”. Entre os aprendizados mais importantes, destaca a importância da confidencialidade: “Aprendi a manter tudo em segredo e não contar nada para ninguém.” Para ele, a experiência contribui para sua formação prática e para definir seus objetivos: “Com esse conhecimento, posso pensar melhor sobre meu futuro. Já sei que quero seguir carreira em Marketing Digital.”
Beatriz Gotardo da Rosa, 18 anos, estudante do terceiro ano do ensino médio, atua há dois anos como estagiária na unidade. Para ela, a vivência é extremamente positiva: “Tem sido ótima. Aprendi muitas coisas novas e continuo aprendendo. Acho que o mais importante foi perceber que uma equipe só funciona quando todos se apoiam e caminham na mesma sintonia.”
Beatriz destaca que o estágio contribui não apenas para sua formação profissional, mas também para sua vida pessoal: “Tenho ótimas colegas que me ajudam e me orientam, não só profissionalmente, mas também me dão conselhos para a vida.” Com planos definidos, ela pretende seguir carreira na área jurídica: “Quero fazer Direito.”
Para Michele Gaspar, assessora coordenadora judiciária da unidade, a experiência é igualmente enriquecedora: “É gratificante saber que fazemos parte do início da trajetória profissional de alguém. Aprendemos juntas, respeitamos limites e descobrimos habilidades que antes talvez fossem desconhecidas.” Além das atividades funcionais, Michele ressalta a importância dos valores transmitidos: “Procuramos dar exemplo de respeito, confiança e companheirismo. Conversamos sobre escola, amizades, futuro profissional e até educação financeira, porque a relação de confiança se constrói naturalmente.”
Santo Ângelo: “O objetivo não é apenas produzir, mas fazer a pessoa crescer”
O Centro Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania (CEJUSC) tem sido palco de experiências enriquecedoras com a participação de adolescentes do Colmeia e já contou com dois jovens na unidade, sendo Rafael Brodt de Arruda o atual estagiário.
O Juiz Luís Carlos Rosa, responsável pelo Juizado da Infância e Juventude e pelo CEJUSC, destacou a importância da iniciativa na inserção profissional de adolescentes acolhidos. Segundo ele, quatro jovens já passaram por estágio nas unidades sob sua responsabilidade, sendo que três concluíram as atividades e um segue em andamento. “No Juizado da Infância e Juventude tivemos dois adolescentes, um do acolhimento institucional e outro do familiar, ambos cumpriram muito bem os termos do estágio. No CEJUSC, uma jovem concluiu brilhantemente e outro adolescente está atualmente em estágio, também com extremo êxito”, afirmou.
Para o magistrado, a experiência tem sido transformadora. “Acho de vital importância o projeto Colmeia, que viabiliza inserção profissional e vivência aos acolhidos, empoderando-os, transformando suas vidas e trazendo novas perspectivas. Eles são acolhidos por todos, o que abre caminhos e sonhos, cumprindo o Poder Judiciário um papel essencial de emancipação social”, ressaltou. Questionado sobre o diferencial do projeto, Rosa destacou a abordagem humanizada.
“Temos grandes dificuldades de inserir adolescentes do acolhimento no mercado de trabalho, e mais ainda de forma humanizada. O Colmeia proporciona isso: o estágio é feito com pessoas que têm sensibilidade para relevar dificuldades, auxiliar e promover crescimento. O objetivo não é apenas produzir, mas fazer a pessoa crescer”, explicou. Para ele, os impactos são profundos: “A impressão que tenho é que sequer temos a exata noção do que isso significa na vida destes jovens — e significa muito, com toda certeza”.
Para Angelita Dorneles da Silva, secretária executiva do CEJUSC, a vivência é motivo de orgulho. “Ver a evolução do adolescente no exercício de sua função, no trato com as pessoas e no seu próprio agir nos mostra o quanto é possível crescer quando se recebe atenção, oportunidade e confiança.” Além das atividades funcionais, a servidora destaca a importância do diálogo e dos valores transmitidos: “Aqui conversamos muito. O primeiro aprendizado é que toda situação conflitiva pode ser resolvida por meio de um diálogo amigável. Também reforçamos valores como respeito, empatia, compaixão, sinceridade, honestidade e a importância de fazer escolhas corretas para construir um futuro digno.”
Rafael, 17 anos, está há dois meses na unidade e considera a experiência muito positiva. “Tenho aprendido como funciona o sistema judiciário e como é essencial o trabalho em equipe entre servidores, estagiários e magistrados.” Entre os principais aprendizados, ele destaca organização, atenção aos detalhes e comunicação clara. “Acredito que este estágio vai me ajudar na vida, pois estou aprendendo a ser responsável, seguir regras e lidar com diferentes situações e pessoas”. Embora ainda não tenha definido sua profissão, Rafael afirma que a experiência tem ampliado sua visão sobre o ambiente jurídico e administrativo.
FONTE: TJRS