TJCE: Lançamento da obra sobre Jovita Feitosa resgata a força e a coragem da “heroína dos Inhamuns”
quinta-feira, 21 de agosto de 2025, 18h15
Uma noite de agosto ganhou contornos de memória e emoção na Escola Superior da Magistratura do Ceará (Esmec). Entre livros, histórias e afetos, foi lançada a obra “JOVITA: A mulher que inspirou. A heroína dos Inhamuns, de Tauá, do Araripe, do Ceará, do Brasil na Guerra do Paraguai”, escrita pelo desembargador do Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE), Francisco Bezerra Cavalcante.
O livro resgata a trajetória de Antônia Alves Feitosa, a jovem de Tauá que ficou conhecida como Jovita Feitosa. Símbolo de resistência em pleno século XIX, ela ousou desafiar o papel que a sociedade lhe impunha. Aos 17 anos, vestiu-se de homem e se alistou para lutar na Guerra do Paraguai. Não chegou ao fronte, mas sua atitude atravessou fronteiras e tempos, tornando-se um marco da luta feminina contra o preconceito.
Durante o lançamento, o autor afirmou que falar sobre Jovita também foi um mergulho em suas próprias origens. “Desde criança eu tinha o ideal de estudar as personagens da minha terra. Jovita me chamou atenção pela coragem de enfrentar a ordem estabelecida, mesmo sem plena consciência do que estava rompendo: um sistema em que a mulher não tinha voz”.
Em seguida, emocionado, o desembargador resumiu a experiência como um marco pessoal. “Mais um sonho na minha vida. Falar sobre uma mulher que se diz minha conterrânea e que é considerada uma das heroínas do Brasil é um privilégio. Jovita foi forte como tantas de nossas mulheres. Destemida, enfrentou um sistema fechado e patriarcal, em que o homem mandava e a mulher era vista apenas como serviçal. A história mostra que ela foi uma das que deu início à emancipação da mulher no Brasil. E para mim, o interesse pela obra também nasce desse amor pela minha terra. Já escrevi sobre a história da minha cidade e agora trago essa jovem que não pertence apenas a uma região, mas ao Brasil inteiro.”
A relevância da personagem foi reforçada pelo desembargador Durval Aires Filho, membro da Academia Cearense de Letras, para quem a obra aproxima Jovita de ícones universais. “A leitura deste livro nos permite ver Jovita como mártir, talvez como uma Joana D’Arc brasileira, ou ainda associá-la à Maria Quitéria, heroína da Independência. Sua trajetória é exuberante e precisava ser revisitada com tanta riqueza.”
Mais que páginas de história, a obra apresenta a vida breve de uma jovem que sonhou com liberdade. Jovita morreu aos 19 anos em decorrência de desilusão amorosa, mas viveu intensamente: vestiu-se como soldado, rompeu padrões e ocupou espaço negado às mulheres. Sua atitude, ainda hoje, ecoa como metáfora de tantas que buscam, diariamente, afirmar sua autonomia.
“Jovita é muito mais que uma personagem histórica. Ela nos lembra que a luta contra o preconceito e a opressão não é coisa do passado, mas um processo que ainda atravessa gerações. Escrever sobre ela é reafirmar a força da mulher na construção do nosso país”, reconheceu Bezerra Cavalcante.
LITERATURA COMO MEMÓRIA E LEGADO
Esta é a quarta obra publicada pelo autor, desde que assumiu o cargo de desembargador no Tribunal de Justiça do Ceará, em 2011. Em cada uma delas, o magistrado transforma a literatura em um gesto de preservação da memória e valorização da cultura cearense.
Magistrado de carreira, Francisco Bezerra Cavalcante ingressou na magistratura por meio de concurso público em julho de 1984. Tem 41 anos dedicados ao Poder Judiciário. Atualmente exerce as funções na 4ª Câmara de Direito Privado do TJCE. Também é membro do Órgão Especial, da Seção de Direito Privado e da Comissão de Informática.
FONTE: TJCE