Aumentam alternativas de transportes sustentáveis, mas poucas são acessíveis
por Por Yasmin Teixeira
quinta-feira, 08 de maio de 2025, 22h28
Para Lucas Melo, apesar da inovação tecnológica, a melhor alternativa de sustentabilidade ainda são os transportes públicos elétricos

O setor de transportes é considerado um dos maiores responsáveis pela emissão de gases poluentes para a atmosfera. Segundo dados do Inventário de Emissões Atmosféricas do Transporte Rodoviário de Passageiros no Município de São Paulo, lançado em 2017, apenas os carros particulares são responsáveis por cerca de 73% dos gases de efeito estufa, além de emitir mais de um terço do CO2 no mundo. E, tendo em vista esse cenário, discussões sobre a sustentabilidade na área tornam-se cada vez mais essenciais para o enfrentamento da mudança climática.
O relatório Tendências Tecnológicas da Organização Mundial da Propriedade Intelectual (Ompi) sobre o futuro do transporte apontou que soluções sustentáveis para o setor cresceram 700% nas últimas duas décadas, passando de 15 mil invenções em 2003 para 120 mil em 2023. Os dados baseiam-se em informações recentes de patentes registradas e exibem uma série de novas ideias, como carros e navios autônomos, portos inteligentes, sistemas de gerenciamento de tráfego e outros.
Sustentabilidade no transporte
Para Lucas Melo, doutorando em Engenharia de Transportes pelo Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Transportes (PPGET) da Escola Politécnica da USP, pensar em sustentabilidade no setor de transportes é de extrema importância para o cenário ambiental atual. “Pensar na importância da sustentabilidade do transporte é pensar em reduzir impactos ambientais, ou seja, a gente contribuir com a mitigação de mudanças climáticas, melhorando a qualidade do ar, melhorando a qualidade de vida nos ambientes urbanos, como diminuindo os congestionamentos e a poluição sonora, por exemplo.”
E não só ambientalmente positivos, mas inovações sustentáveis favorecem também um grande e crescente mercado de inovações tecnológicas, protagonizado por grandes potências mundiais. O ranking de patentes está ocupado principalmente pela China, Japão, Estados Unidos, Coreia do Sul e Alemanha, que representam os maiores inventores do mundo. Para Melo, esse mercado é importante por oferecer alternativas mais eficientes e sustentáveis. “As urgências das mudanças climáticas exigem que a gente tome medidas mais bruscas de eficiência, principalmente introduzindo o uso de veículos híbridos e elétricos. E isso faz com que a gente fomente também as inovações tecnológicas, proporcionando modelos de mobilidade mais acessíveis e eficientes para todo mundo.”
Carros elétricos
Neste campo de sustentabilidade, os carros elétricos estão entre as alternativas mais discutidas por utilizarem uma matriz energética mais limpa. Segundo dados da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), o Brasil registrou um aumento de 89% na venda de carros elétricos em 2024, com 177.358 veículos leves emplacados de janeiro a dezembro.
Entretanto, assim como ressaltado pelo pesquisador, para a adoção do conceito “sustentável”, espera-se a análise de todo o processo de fabricação do transporte e, no caso dos elétricos, a construção e descarte de suas baterias podem ser drasticamente poluentes. Além disso, há uma grande disputa pelos minerais essenciais para a produção dessas baterias, como lítio, níquel, cobalto e outros, que também envolvem longos e degradantes processos de mineração.
“Não adianta a gente ter uma frota enorme de veículos elétricos, enquanto que as fábricas que são utilizadas para construir são baseadas em usinas de produção de energia elétrica, baseadas em carvão, em óleo diesel etc., porque elas são tão poluentes quanto. A gente só está retirando o foco da poluição, ao invés de ser nas cidades, nos locais onde essa energia é produzida. E o final do ciclo desses veículos elétricos, das baterias propriamente ditas, ainda é muito incerto quanto ao descarte, porque elas são compostas de materiais de metais pesados e que são altamente contaminantes no meio ambiente, principalmente no solo.”
Invenções ocultas
A grande maioria destas patentes e novas tecnologias terminam por não atingir a grande população por diversos motivos, como seus altos valores de fabricação, direitos de patente, pouca infraestrutura e má distribuição. Assim, apesar de existentes, elas podem não impactar ou gerar bons e efetivos resultados contra a mudança climática de maneira expansiva.
Por esse motivo, estudiosos defendem a melhoria do transporte público como uma alternativa mais sustentável e acessível, além de mais praticável através da incrementação de políticas públicas. Eles transportam uma maior quantidade de pessoas enquanto emitem menos poluentes, tornando-os mais sustentáveis que carros, por exemplo.
Para Lopes, a melhor alternativa são os transportes públicos elétricos, especificamente os ônibus. “A melhor solução ainda é o transporte público eficiente, principalmente com veículos que usam a tecnologia eletrificada, como metrôs, trens. Mas nem todas as cidades têm uma demanda suficiente para poder implementar metrôs e trens, porque são muito caros (…) Então, a alternativa seria a implementação de transporte público de massa com a tecnologia elétrica, seja sistemas de metrô, de trem, para as velocidades, BRTs, que são ônibus elétricos e até ônibus regulares elétricos.”
Fonte: Jornal da USP