Alunos pretos representam 3,9% do total das matrículas e 5,8% do total de reprovados, diz Unicef
por Por Ana Carolina Moreno, G1
quinta-feira, 31 de outubro de 2019, 14h15
Levantamento divulgado nesta quinta-feira (31) foi feito com os dados das escolas públicas estaduais e municipais e mostra ainda que reprovação escolar é mais comum se o aluno for do sexo masculino, se estudar na zona rural ou se tiver deficiência.
Dos 2,6 milhões de estudantes de ensino fundamental ou médio que reprovaram de ano em 2018, 48,41% são negros (pretos ou pardos). Apesar de os pardos comporem o maior grupo entre as raças ou cores da população estudantil, os pretos são os que têm a mais alta taxa de reprovação: eles representam 3,9% do total de alunos, mas respondem por 5,8% das reprovações, segundo dados divulgados na tarde desta quinta-feira (31) pelo Unicef. O levantamento foi feito com base nas informações das matrículas nas escolas públicas estaduais e municipais brasileiras.
Compare a taxa de reprovação no ensino fundamental e no médio nas escolas estaduais e municipais brasileiras em 2018, segundo a raça ou cor declarada no Censo da Educação Básica — Foto: Ana Carolina Moreno/G1
Estudantes que repetem de ano
O estudo, feito com base nos dados do Censo da Educação Básica de 2018, divulgados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) em janeiro deste ano, mostra ainda que a raça não é o único critério que pode deixar os alunos mais vulneráveis à reprovação e a ficarem atrasados em relação à idade, o que aumenta o risco de abandonarem a escola.
Segundo o Unicef, outros recortes, como gênero, portadores de deficiência ou localidade da escola podem aumentar ou não a probabilidade de reprodução. As comparações feitas pelo órgão da Organização das Nações Unidas (ONU) indicam que:
- 11,3% dos meninos reprovaram de ano em 2018, contra 6,9% das meninas;
- Já entre os estudantes com alguma deficiência, a taxa de reprovação foi de 13,82%. No grupo de alunos sem deficiência, ela cai para 8,68%;
- Nas escolas rurais, um a cada dez alunos não passou de ano (10,29%). Considerando os estudantes da zona urbana, a taxa foi de 8,96%.
Alunos do ensino médio — Foto: Eduardo Apolinário/TV Globo
Estudantes atrasados
A reprovação faz com que os estudantes acabem atrasados em relação aos colegas da mesma idade. Em 2018, segundo o Unicef, o Brasil tinha 6.474.641 alunos com dois ou mais anos de atraso escolar. Isso representa 22% do total de matrículas nos três níveis de ensino.
Essa é a chamada "distorção idade-série". Segundo o Plano Nacional de Educação (PNE), a meta definida em 2014 e aprovada por unanimidade no Congresso Nacional prevê que, até 2024, 95% dos adolescentes de 16 anos tenham concluído pelo menos os oito anos do ensino fundamental, e que 85% dos adolescentes de 15 a 17 anos estejam matriculados no ensino médio.
Os dados analisados pelo Unicef indicam que, no Brasil, esse problema varia conforme as regiões e vai piorando conforme aumenta a idade do estudante: no ensino fundamental I (anos iniciais), 13% dos alunos estão com dois ou mais anos de atraso, um índice que salta para 28% e 31% no fundamental II (anos finais) e no médio, respectivamente.
Distorção idade-série varia conforme a região do Brasil, diz levantamento do Unicef divulgado nesta quinta (31) — Foto: Ana Carolina Moreno/G1
- Entre os meninos, mais uma vez as taxas são mais altas: 26,2% deles estavam atrasados em pelo menos dois anos em 2018. Considerando as alunas meninas, esse índice cai para 18,31%;
- A distorção é ainda maior entre os estudantes com deficiência: 48,67% deles estavam matriculados em duas séries atrás do esperado para a idade, no mínimo; entre os estudantes sem deficiência, essa defasagem foi de 22,16%;
- Já na zona rural, essa taxa foi de 27,3%, comparado com 21,5% na zona urbana.
Estudantes que abandonam a escola
Em 2018, o Unicef aponta que 912.524 estudantes matriculados no ensino básico desistiram da escola, sendo que metade deles já estavam no ensino médio quando abandonaram.
Segundo o Unicef, os dados representam os índices de abandono escolar divulgados pelo próprio Inep.
Mais uma vez, os índices são mais elevados na Região Norte em todos os níveis de ensino. De acordo com o estudo, metade dos estudantes que abandonaram a sala de aula são pretos e pardos.