Maioria das escolas municipais está adotando estratégias combinadas, com aulas remotas e presenciais, revela pesquisa da Undime com apoio do UNICEF e Itaú Social
quinta-feira, 09 de dezembro de 2021, 09h46

UNICEF/BRZ/Hugo Coutinho
Neste segundo semestre de 2021, grande parte das redes municipais de ensino reabriu para aulas presenciais. A maioria está combinando estratégias presenciais e remotas; cerca de um terço está com aulas totalmente presenciais; e ainda há redes com aulas apenas remotas. É o que revela a sexta onda da pesquisa sobre o planejamento das redes municipais de ensino quanto às atividades escolares e ao calendário de 2021, realizada pela União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), com apoio do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e Itaú Social. O estudo ouviu 2.851 municípios brasileiros (51%), o que representa quase 12 milhões de estudantes atendidos pelas redes municipais.
O estudo mostra que a maioria das redes está adotando a oferta da educação por meio de estratégias combinadas, isto é, presencial e remota. As aulas presenciais são mais frequentes no ensino fundamental, e menos frequentes na creche e na educação de jovens e adultos (EJA). Com relação ao território, as aulas presenciais ocorrem mais nas escolas urbanas do que nas rurais.
Na educação urbana, nos anos iniciais do ensino fundamental, 52,7% adotam estratégias combinadas (presencial e remota), 34,6% estão totalmente presencial e 12,7% totalmente remoto. Nos anos finais do ensino fundamental, são 53%, 33% e 14%, respectivamente.
Quando se analisa as informações sobre como está sendo ofertada a educação do campo por etapa, os números revelam que, nos anos iniciais do ensino fundamental, 46,5% das redes estão adotando estratégias combinadas, 35,4% totalmente presencial e 18,1% estão realizando essa oferta de maneira totalmente remota. Os números são parecidos quando se trata dos anos finais do ensino fundamental – estratégias combinadas (47%), totalmente presencial (34,1%) remoto (18,9%).
A tendência do uso de estratégias combinadas ocorre também na educação especial do ensino fundamental, em que, nos anos iniciais, 54,2% das redes seguem a estratégia combinada (presencial e remoto), 28,6% estão totalmente presencial e 17,2% totalmente remoto. Nos anos finais, são 53%, 28,3% e 18,6%, respectivamente.
De acordo com as informações levantadas, 42,5% das redes respondentes iniciaram o segundo semestre de 2021 em julho e 50,6% em agosto. Além disso, 95,4% das redes afirmaram que o calendário letivo de 2021 será concluído ainda neste ano e 4,6% apenas em 2022. Questionados sobre quando deve ser iniciado o calendário letivo do próximo ano, 11,9% informaram ser em janeiro e a grande maioria (81,6%) no mês de fevereiro.
A pesquisa buscou entender como as redes têm se planejado quanto às atividades escolares e ao calendário letivo de 2021 e 2022, bem como sobre a oferta de educação presencial e não presencial, quais os principais desafios das Secretarias Municipais de Educação neste momento e como as redes estão se preparando para as atividades presenciais. O levantamento ocorreu por meio de questionário online, aplicado de 19 de outubro a 15 de novembro.
Adesão às aulas presenciais
A pesquisa perguntou, também, sobre a adesão dos estudantes às atividades presenciais. Nos anos iniciais do ensino fundamental, 56,2% das redes afirmaram que todos ou quase todos estão frequentando, 25,8% afirmaram que mais da metade está frequentando, 6,4% disseram que menos da metade e 11,6% que as aulas presenciais ainda não retornaram. Nos anos finais, foram 52,4%, 26,6%, 7,5% e 13,5% respectivamente.
O presidente da Undime, Luiz Miguel Martins Garcia, dirigente municipal de Educação de Sud Mennucci (SP), reforça a importância das pesquisas para a melhoria da educação nos municípios brasileiros. “Quando começamos a realizar esses estudos com as redes, logo no início da pandemia, não imaginávamos que a educação mudaria tanto. Todos precisaram se reinventar e, neste momento, de retomada às atividades presenciais em grande parte das redes, é preciso trabalhar na realização de avaliações diagnósticas com o objetivo de identificar como está a aprendizagem dos estudantes. Sabemos que teremos defasagens, mas agora é hora de focarmos a nossa energia na identificação dos problemas e, assim, atuarmos na recomposição do aprendizado”, comenta.
Assim como na última edição da pesquisa, materiais impressos e orientações por WhatsApp continuam liderando os métodos utilizados para a realização de atividades não presenciais em 2021. Na sequência, aparecem as videoaulas gravadas que são utilizadas por 48,2% das redes respondentes nos anos finais do ensino fundamental, 63,3% nos anos iniciais e 34,5% na educação de jovens e adultos. O que se percebe ao fazer uma análise em relação às ondas anteriores da pesquisa é que as videoaulas gravadas têm ganhado espaço como ferramenta.
Outro dado que chama atenção quando comparado à onda anterior da pesquisa, realizada entre junho e julho deste ano, é que aumentou consideravelmente o número de redes que já concluíram os protocolos de segurança para o retorno às aulas presenciais. No meio do ano, 57% das redes respondentes tinham concluído os protocolos e 40,4% ainda estavam em fase de construção. A pesquisa mais recente revela que 82,2% das redes já concluíram os protocolos e somente 9,2% estão em fase de construção; 8,1% das redes declararam utilizar o protocolo da Secretaria de Estado.
Em relação às estratégias para acompanhar e monitorar as atividades pedagógicas que estão sendo realizadas ao longo deste ano, destacam-se duas como sendo as realizadas com maior frequência pelas redes respondentes: conversas regulares com diretores e coordenadores pedagógicos para discutir e acompanhar a aprendizagem dos estudantes (78,2%) e apoio às escolas para análises e diagnósticos a partir de avaliações internas (56,3%).
“O Brasil está entre os países em que as escolas ficaram fechadas por mais tempo. Em novembro de 2020, havia 5 milhões de estudantes sem acesso à educação no País, voltando duas décadas no acesso à educação. Por isso, é essencial que todas as escolas retomem as atividades presenciais e invistam para que cada estudante volte às salas de aula. Esse deve ser um esforço conjunto, de municípios, de escolas, famílias e comunidade escolar, para que as crianças e os adolescentes tenham seu direito à educação de qualidade garantido, estando na escola, convivendo com seus colegas e aprendendo”, afirma Florence Bauer, representante do UNICEF no Brasil.
“As redes municipais de educação responderam muito bem aos desafios do ensino remoto na pandemia, adaptando-se em tempo recorde ao novo modelo. Porém, os esforços continuarão em 2022. Combinar ensino remoto e presencial é a nova realidade, mas precisamos buscar ampliar o acesso à tecnologia, tanto nas escolas quanto para as famílias. Além disso, os dirigentes sinalizaram que vão priorizar a busca ativa escolar e a recomposição de aprendizagens. Essas medidas são essenciais para se reduzir as desigualdades, tão aprofundadas neste momento que estamos vivendo”, considera a gerente de Pesquisa e Desenvolvimento do Itaú Social, Patrícia Mota Guedes.
Corroborando com isso, o apoio para diretores escolares (62,6%) aparece como o principal foco entre as ações implementadas para apoiar as escolas na oferta de ensino em 2021. Na sequência, aparecem a Busca Ativa Escolar (62%), o apoio com material pedagógico (60,8%) e o apoio para a realização de avaliações diagnósticas (59,7%).
Desafios
A pesquisa revela que o acesso à tecnologia pelos estudantes segue sendo o maior dos desafios enfrentados pelas redes respondentes. Além desse desafio já conhecido, aparecem com grande destaque dois outros vinculados à perspectiva de retorno às atividades presenciais: a recomposição de aprendizagem e a motivação dos estudantes, relacionados com a atenção que as redes têm dado à busca ativa dos alunos.
Acesse o relatório final da pesquisa.
Fonte: UNICEF/Brasil