Por preconceito e desinformação, empresas evitam contratar refugiados
por Ricardo Westin
quinta-feira, 17 de outubro de 2019, 13h39
Para os refugiados, ser contratado por uma empresa brasileira é particularmente difícil. Uma pesquisa feita neste ano pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) mostra que 20% dos estrangeiros refugiados no Brasil vêm procurando trabalho, mas sem sucesso. Trata-se praticamente do dobro da taxa nacional de desemprego, que, segundo o IBGE, é de 12% da população economicamente ativa.
Em certas situações, a dificuldade para os refugiados entrarem no mercado de trabalho é até compreensível. Como muitas vagas são preenchidas por indicação, eles acabam ficando em desvantagem por terem uma rede de contatos pequena no Brasil. A falta de domínio do português aparece como um entrave adicional no caso dos recém-chegados.
Há motivos, contudo, que não são compreensíveis. Com frequência, é por pura falta de informação que as empresas descartam logo de cara o currículo dos refugiados, sem nem mesmo chamá-los para a entrevista. Muitos empresários pensam que o processo de contratação é mais complexo, burocrático e demorado do que o processo de um brasileiro. Outros supõem que seja ilegal admitir refugiados e que, fazendo isso, serão multados pelo governo ou até presos pela Polícia Federal.
Nada disso é verdade. A contratação de refugiados é perfeitamente legal e segue as mesmas regras para a admissão de brasileiros, sem implicar nenhum ônus ou encargo extra para o empregador.
Imigrante venezuelano pede emprego em Boa Vista (foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Esclarecer as empresas é urgente. Até pouco tempo atrás, os refugiados eram um tema estranho aos brasileiros, restrito ao noticiário internacional, mas vêm se transformando numa questão cada vez mais doméstica. Em 2010, o Ministério da Justiça recebeu cerca de mil solicitações de refúgio. No ano passado, os pedidos saltaram para 80 mil.
Foi o recorde histórico. Por causa desse volume extraordinário, o Brasil subiu várias posições no ranking mundial e se tornou o sexto país ao qual estrangeiros mais recorreram em busca de proteção. A maior procura foi de venezuelanos, fugidos da crise política, econômica e social de seu país. Veja notícia na íntegra aqui.
Fonte: Senado Federal.