Desenvolvimento Sustentável: uma expressão em busca de revelação*

por RINALDO SEGUNDO
terça-feira, 08 de março de 2016, 08h56
Desenvolvimento Sustentável é o desenvolvimento que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer as oportunidades das futuras gerações satisfazerem as suas próprias necessidades. Relatório Brundtland, Nosso Futuro Comum.
A expressão “desenvolvimento sustentável” sintetizou o ideal revolucionário. Não há um consenso definitivo sobre a expressão. Se três autores escreverem sobre ela, três compreensões diferentes sobre o tema podem existir.
E nem poderia ser diferente. Como toda síntese, a expressão desenvolvimento sustentável foi fruto de disputa e conciliação. Disputa entre os que pretendiam e os que não pretendiam mudanças na forma tradicional de crescimento econômico das empresas e países e, finalmente, conciliação entre essas mesmas partes. Como toda síntese, a expressão desenvolvimento sustentável precisou ser ampla o suficiente para compatibilizar interesses que pareciam inconciliáveis (para alguns, ainda o são).
As divergências existirão não propriamente sobre o conteúdo, mas sim, sobre o peso destinado a cada um dos componentes da expressão. E conforme o peso dado aos componentes da expressão, prioriza-se mais um ou outro interesse.
São componentes da expressão desenvolvimento sustentável: o econômico, o social e o ambiental. Independente do peso conferido pelo intérprete, a presença dos 3 componentes obriga o intérprete a lidar com todos os componentes, justificando a sua escolha.
Considerando os países, os 3 componentes obrigam os países a gerir seus crescimentos econômicos sem esgotar recursos naturais e a estimular ganhos sociais (melhorar a situação dos trabalhadores incluídos e incluir grupos historicamente excluídos são razoáveis parâmetros avaliativos dos ganhos sociais).
Considerando a Amazônia, a inter-relação dos 3 componentes do desenvolvimento sustentável deve reconhecer:
- o crescimento econômico como motor da prosperidade, mas também os riscos do crescimento econômico concentrado gerando prosperidade para poucos;
- a diversidade dos grupos amazônicos e suas formas usuais de exploração da natureza, bem como a capacidade destrutiva do homem sobre a natureza;
- a relação entre exploração racional dos recursos amazônicos e o aumento do bem estar das populações amazônicas;
- a exclusão histórica de determinados grupos amazônicos de qualquer estratégia desenvolvimentista.
Apesar das limitações subjetivas, expressões como “desenvolvimento sustentável” impõe a justificação discursiva de ações, e portanto, a revisão de ações ambientalmente destrutivas ou socialmente injustas, condicionando o planejamento da utilização dos bens ambientais além de permitir restrições e censuras. Essa justificação estimula a análise crítica do desenvolvimento, possibilitando correções rumo à sustentabilidade.
Agrupando os 3 componentes, um desenvolvimento sustentável amazônico deve garantir um crescimento econômico planejado e contínuo, sem esgotar os recursos naturais para as gerações futuras, e com qualidade de vida para todos.
*Artigo 8 da série de artigos Desenvolvimento Sustentável da Amazônia.
Rinaldo Segundo, promotor de justiça no MPE/MT e mestre em direito (Harvard Law School), é autor do livro “Desenvolvimento Sustentável da Amazônia: menos desmatamento, desperdício e pobreza, mais preservação, alimentos e riqueza,” Juruá Editora.
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