Ministério Publico do Estado de Mato Grosso

Fórum de erradicação do trabalho escravo reprova a suspensão das ações do grupo móvel

quinta-feira, 27 de setembro de 2007, 00h00

O Fórum de Erradicação do Trabalho Escravo, Infantil e de Proteção ao Meio Ambiente do Trabalho do Portal da Amazônia  e região, com sede no Município de Alta Floresta, Mato Grosso, vem a público manifestar-se sobre a suspensão, em todo o território nacional, das operações do Grupo Móvel de Erradicação do Trabalho Escravo, decidida no dia 21 de setembro, tendo em vista os seguintes fatos:

1)No dia 30 de junho, em Ulianópolis, no Pará, o Grupo Móvel de Erradicação do Trabalho Escravo, acompanhado do Ministério Público do Trabalho e da Polícia Federal, realizou a maior libertação de trabalhadores mantidos em condições análogas à de escravo do país. Na ocasião, foram resgatados 1.064 trabalhadores que atuavam na lavoura de cana-de-açúcar, em fazenda que pertence à empresa Pará Pastoril e Agrícola S/A – Pagrisa.

2)Desde então, a Pagrisa, flagrada explorando a mão-de-obra escrava, tem buscado politicamente anular a atuação da fiscalização, contando para isso com o apoio de alguns Parlamentares.

3)A partir dessa articulação, foi instaurada uma Comissão Especial Externa do Senado Federal, através da qual tem sido promovida, de forma explícita, a defesa da Pagrisa e a intimidação dos órgãos e agentes de fiscalização responsáveis pela operação.

4)Mais recentemente, defenderam diversos dos Senadores que integram essa Comissão a instauração de inquérito policial pela Polícia Federal contra os Auditores-Fiscais do Trabalho que participaram da operação.

5)Em reação a tal tentativa de intimidação, a Secretaria de Inspeção do Trabalho decidiu, no último dia 21 de de setembro, suspender as operações do Grupo Móvel de Combate ao Trabalho Escravo em todo o país, apresentando por justificativa o clima de insegurança que a atuação da Comissão Temporária do Senado projeta sobre as ações de fiscalização.

Diante desses preocupantes fatos, a manifestação do Fórum é no sentido de:
Reafirmar que o trabalho em condições análogas à de escravo continua sendo, infelizmente, uma realidade em todas as regiões do Brasil, inclusive no Pará, Mato Grosso e São Paulo, como demonstram as operações do Grupo Móvel e as ações propostas pelo Ministério Público;
Alertar para a necessidade de ser dada continuidade às operações de erradicação do trabalho escravo, pois tal violência contra os trabalhadores gera, além de danos irreparáveis aos indivíduos diretamente atingidos, prejuízos a toda a sociedade, lesada por violações aos direitos fundamentais da pessoa humana;

Recordar que o Brasil assumiu, internacionalmente, o compromisso de erradicar o trabalho em condições análogas à de escravo, sendo que o descumprimento dessa obrigação causará enorme desgaste à imagem do país no exterior, além de prejuízos econômicos, com o fechamento de mercados internacionais aos produtos brasileiros, como  a carne e o etanol, vinculados a atividades que exploram a mão-de-obra escrava;

Repudiar as tentativas de intimidação política, próprias do período da ditadura militar, dirigidas a Auditores-Fiscais do Trabalho, os quais têm realizado suas relevantes funções na estrita obediência à lei, acompanhados por Procuradores do Trabalho e Delegados da Polícia Federal;

Repudiar, ainda, a atuação de Senadores da República que têm atuado como patronos privados de uma empresa exploradora da mão-de-obra escrava, afastando-se de seu dever de representar não interesses particulares, mas o interesse público e as expectativas de todo o povo brasileiro;

Alertar para o perigo de serem suspensas as operações do Grupo Móvel de Erradicação, ainda que temporariamente, ante o risco concreto de que tal paralisação, mediante articulações políticas de setores interessados em barrar a fiscalização no meio rural, transformar-se em desarticulação permanente, seguindo o mesmo destino do extinto Grupo Móvel de combate à exploração do trabalho infanto-juvenil;

Recomendar à Secretaria de Inspeção do Trabalho que não ceda às tentativas de intimidação realizadas, que devem ser encaradas como revezes muitas vezes inevitáveis ante a realização de um trabalho de fiscalização bem-sucedido e absolutamente necessário, sabendo que os culpados pela exploração dos trabalhadores sempre lançarão mão de tais expedientes na tentativa de fugir da punição;

Conclamar, por fim, a sociedade brasileira, bem como os Poderes Públicos, a apoiar a atuação do Grupo Móvel de Erradicação do Trabalho, não dando respaldo a tentativas de intimidação que buscam, através da força e do medo, submeter os interesses de toda a sociedade aos objetivos particulares e inconfessáveis de uma única empresa privada, exploradora da mão-de-obra escrava.

    Alta Floresta, 25 de setembro de 2007

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