Ministério Publico do Estado de Mato Grosso

MEIO AMBIENTE

Queimadas destroem a matéria orgânica do solo

por UFMT

quinta-feira, 10 de setembro de 2020, 09h16

 

UFMT em campanha de conscientização contra queimadas

 

O fogo tem sido utilizado como uma ferramenta de limpeza e preparo do solo, com finalidade essencialmente agrícola. Segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) o método continua sendo empregado devido às facilidades que proporciona. Mas, se por um lado parece uma alternativa viável em curto prazo, por outro, pode ser um péssimo investimento devido às alterações no solo e o impacto na produção ao longo do tempo.

 

Mato Grosso está entre os estados com o maior número de focos de fogo detectados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), junto com o Pará e o Amazonas representam 60% das queimadas do mês de agosto. O cenário é crítico e além dos impactos ambientais graves e de comprometer à saúde humana, potencializando os danos no atual contexto pandêmico, as queimadas podem destruir a matéria orgânica do solo, comprometendo por anos à sua capacidade de produção.

 

O professor Emílio Carlos de Azevedo, da Faculdade de Agronomia e Zootecnia (FAAZ), da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), explica a junção de fases que compõem a estrutura do solo como um sistema vivo. O solo é composto por uma fase gasosa (o ara, espaço de vazio), uma fase líquida (a água, chamada de solução) e a parte sólida que representa mais ou menos 50% do volume do solo, sendo 45% de material mineral e 5% de matéria orgânica.

 

“A matéria orgânica exerce fundamental importância, porque sem ela as partículas minerais do solo não têm agregação, não forma o espaço poroso necessário para a circulação de ar e água. Essa matéria orgânica é viva, vem dos vegetais e animais que caem sobe o solo e se decompõe. Quando o fogo vem e queima, ele queima a parte superficial do solo, que é justamente onde tem a maior quantidade de matéria orgânica, então o fogo destrói a vida do solo”.

 

Quando se fala em queimadas existem dois tipos, as autorizadas e as criminosas. A legislação estadual permite o uso do fogo para limpeza e manejo de solo na área rural mediante a autorização de queimada controlada emitida pela Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Sema/MT). Já a ação criminosa parte do uso do método por conta própria, sem a técnica e o acompanhamento devido, sem a preocupação com a redução do material a ser queimado.

 

“É sabido que se for muito intenso o material a ser queimado a temperatura aumenta demais e arrebenta o solo. O que se faz é reduzir essa carga para trazer menos transtorno, assim, rapidamente ele se recupera”, explica o docente.

 

Azevedo afirma que existem várias formas de se fazer a limpeza do solo e que isso varia dependendo da quantidade de material vegetal presente. “Em uma área de cerrado, só com equipamentos agrícolas você pode fazer essa limpeza”. Entretanto, para áreas com vegetação densa, floresta de maior porte, apesar da retirada da madeira, ainda sobra muito material vegetal, “é inviável técnica e economicamente, não tem outra forma a não ser utilizar o fogo, mas com autorização, utilizando técnicas e reduzindo a carga de material que é queimado”.

 

Em caso de queimadas criminosas, em que há a destruição da área “só existe uma forma de recuperar o solo, é dando vida a ele. Para isso você tem que deixar a vegetação se recompor, só existe recuperação de solo se houver a recuperação da vegetação que estava ali”. Essa vegetação é crucial para a reconstituição da matéria orgânica. “O homem também pode acelerar isso, facilitando que essas plantas se desenvolvam mais rapidamente”, explica o especialista.

 

O profissional aponta uma alternativa, incentivar outros modelos de produção que mantenham a floresta em pé. “Acho que vai ser uma necessidade futura, cadeias produtivas que utilizam manejos, que não precisam fazer o corte raso e ir para a monocultura. Se você pegar o montante de área agrícola que temos hoje, acredito que não há necessidade de haver desmatamento para a produção. Se houvesse um planejamento, um programa de recuperação de área de pastagens que já existem, isso aumentaria a produção”.
“Não é só questão de queimadas, estão envolvidas outras coisas por traz disso e na verdade, essas queimadas são consequências das cadeias produtivas que nós temos e o mundo compra”, conclui o docente.

 

Campanha

A UFMT lançou em julho a campanha "A Atmosfera é de Todos", com foco em alertar sobre os riscos das queimadas. Ela será composta por publicações frequentes em redes sociais, além de matérias especiais na TV Universidade e no site, trazendo estudos da área. Verifique as demais matérias já publicadas da campanha, queimadas e doenças respiratórias e queimadas e poluição.

 

Fonte: UFMT


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